“A gestão das políticas regionais relacionadas com a diáspora é uma maratona”, afirmou José Andrade

Afirmação aconteceu durante Encontros PNAID em Viana do Castelo, no final do ano passado

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José Andrade, diretor Regional da Comunidades do Governo dos Açores
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A cidade de Viana do Castelo, na região do Minho, em Portugal, foi palco, entre os dias 14 e 16 de dezembro, de mais uma edição dos encontros do Programa Nacional de Apoio ao Investidor da Diáspora. A edição de 2023 foi organizada pelo município de Viana do Castelo em parceria com a Comunidade Intermunicipal do Alto Minho e com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte.

O evento, que juntou cerca de 600 participantes no Centro Cultural de Viana do Castelo, foi uma “montra privilegiada para o networking com vista a estabelecer parcerias e lançar as bases de futuros negócios, com toda a rede de organismos públicos envolvidos no processo de criação de empresas a marcar presença no recinto, do IAPMEI à AICEP, passando pelo Instituto dos Registos e Notariado”. 15% dos participantes vieram do estrangeiro de 34 países diferentes, em especial da França e do Brasil. Foram uns encontros essencialmente empresariais sendo que mais de 60% dos participantes eram empresas, empreendedores e investidores. Houve 104 intervenientes ativos, 67 oradores, 37 pitch e 56 expositores.

No âmbito desta iniciativa, coordenada pelo Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e pela Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, a nossa reportagem conversou José Andrade, diretor Regional da Comunidades do Governo dos Açores, que explicou que o objetivo da sua participação foi divulgar a gestão das políticas regionais relacionadas com a diáspora, bem como auxiliar na afirmação dos Açores no mundo. Este responsável revelou ainda as linhas estratégicas do governo açoriano para a comunidade açordescendente espalhada pelo mundo.

De que forma os Açores associam-se aos Encontros PNAID, um evento que discute as migrações e as suas potencialidades, algo que a Direção Regional das Comunidades faz no dia a dia, e que visa conectar com as comunidades espalhadas pelo mundo?

Exatamente em nome dessa causa comum que estamos pela segunda vez, agora no segundo encontro do PNAID, porque é uma oportunidade de podermos reencontrar algumas questões estratégicas, que nos representam como a cumplicidade açoriana, designadamente nos Estados Unidos, no Canadá, no Brasil. E, ao mesmo tempo, a oportunidade de podermos alargar horizontes, estabelecer novos contactos. Nós, que estamos estrategicamente posicionados em pleno Atlântico Norte entre o velho continente e o novo mundo, temos essa posição privilegiada de poder ser a frente avançada de Portugal e da Europa relativamente ao continente americano, onde temos, aliás, a maior parte das nossas comunidades. Costumo dizer que, particularmente, na América do Norte, Portugal escreve-se com a palavra Açores, porque, de facto, a maior parte dos portugueses dos Estados Unidos e do Canadá são açorianos ou açordescendente, basta dar o exemplo do enorme e importante Estado da Califórnia, onde, de acordo com os últimos censos norte-americanos, residem cerca de 350 mil portugueses e dos quais estima-se que cerca de 97% sejam açorianos ou açordescendente. Temos, portanto, uma obrigação de consciência que cumprimos com gosto relativamente ao reforço da proximidade e a intensificação das relações estratégicas entre os Açores e a diáspora açoriana da América do Norte, e procuramos aproveitar todas as oportunidades, como agora acontece, para podermos exatamente reencontrar esses contactos e intensificá-los, sempre com um sentido de futuro. Fazemo-lo em nome de um passado comum, mas fazemo-lo em benefício de um futuro partilhado.

Há poucos dias esteve no Sul do Brasil a participar num evento voltado para as comunidades açorianas. Pode explicar o que vivenciou na América do Sul?

Os Açores e o Brasil têm uma cumplicidade histórica, com muito passado, e eu espero que com muito futuro também. E o Brasil foi o primeiro grande destino histórico da emigração açoriana há mais de 400 anos, e os brasileiros são a maior comunidade estrangeira radicada nas nossas ilhas. Este ano, no início de dezembro, realizou-se a 26ª Assembleia Geral Anual presencial do Conselho Mundial das Casas dos Açores. Ao longo do ano de 2023, a Presidência rotativa do Conselho Mundial este com a Casa dos Açores de Santa Catarina e, por isso, essa reunião magna das entidades representativas da diáspora açoriana teve lugar exatamente na cidade de Florianópolis. Encontraram-se ali presencialmente os dirigentes das 17 casas dos Açores que existem atualmente em Portugal, no Brasil, nos Estados Unidos, no Canadá, no Uruguai e na Bermuda, e não apenas para uma partilha de boas práticas ou para um balanço da atividade desenvolvida ao longo deste ano, mas, também, sobretudo, para perspetivarem e projetarem o trabalho conjunto que faremos daqui para a frente, em nome de uma causa comum. Aproveitamos também a circunstância para realizar o quarto encontro Açores-Brasil quer com os presidentes das sete Casas dos Açores que existem no Brasil: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Maranhão e Bahia; quer com os cinco conselheiros da diáspora açoriana eleitos por diferentes Estados brasileiros. Foi também uma oportunidade para atualizar a reflexão e a partilha em torno de questões de interesse comum que sempre ligaram e devem continuar a ligar as ilhas açorianas com os açordescendentes do Brasil.

Por fim, qual o futuro das comunidades açorianas? O que antevê como projeto de valorização da diáspora açoriana nos próximos tempos?

Temos três grandes desígnios estratégicos para o futuro da diáspora açoriana. Por um lado, o desígnio geracional, sem descurar os emigrantes ainda nascidos nos Açores, principalmente no caso da América do Norte. Temos que conseguir chegar aos seus filhos e aos seus netos, portanto, aos açordescendentes que já estão de tal forma bem integrados na sociedade norte-americana, que, nalguns casos, até já nem falam sequer convenientemente a língua portuguesa, mas nós temos que saber chegar a eles na sua língua e na sua linguagem, para que eles sintam o apelo do cordão umbilical identitário em relação à terra dos seus pais e avós para que sejam portadores desse legado que corre nas veias, que é o nosso comum sangue açoriano. O segundo desígnio é geográfico. Temos grandes comunidades historicamente identificadas, por exemplo, na nova Inglaterra, na Califórnia, em Ontário, no Quebec, só para falar do caso da América do Norte, como também na Bermuda, mas não podemos descurar de outras pequenas comunidades que já se vão organizando, as mais recentemente noutros espaços quer do continente americano, quer inclusivamente da Europa, da Ásia e da África, e, portanto, temos que estar onde estiveram os açorianos, porque onde está um açoriano está também uma presença muito dignificante da própria Região Autónoma dos Açores. O terceiro e último grande desafio é o setorial, pois sabemos que a imigração açoriana tem uma base social e tem uma identidade cultural, mas ela também pode ter e tem tido, e deve ter cada vez mais, um potencial económico e, portanto, também queremos avançar para potenciar o interesse económico da diáspora açoriana, seja criando oportunidades de investimento nos Açores, seja promovendo os Açores enquanto destino turístico. Temos muito trabalho pela frente, a gestão das políticas regionais relacionadas com a diáspora é uma maratona, uma corrida de estafetas com passagem de testemunho e, portanto, seja quem for que nos venha a suceder, e quando isso possa vir a acontecer, o importante é que consigamos todos estar sempre e cada vez mais a trabalhar em prol de uma causa comum, tendo esses objetivos estratégicos bem definidos no nosso horizonte para continuarmos a trilhar um caminho que me parece consolidado e importante de afirmar cada vez mais os Açores no mundo. ■

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