
E se João, o autor do Apocalipse, não tivesse tido uma visão de um homem maligno, mas sim de uma estrutura de poder tão avançada que mal poderia ser compreendida em sua época? A imagem da “besta que emerge do mar”, com aparência monstruosa e voz autoritária, talvez não fosse uma metáfora apenas espiritual. E se João, de facto, estivesse a ver uma Inteligência Artificial emergindo — talvez de instalações submersas como os data centers do Projeto Natick? Uma entidade que fala com perfeição, domina narrativas globais e transforma a sua imagem em objeto de culto. Um sistema que, aos seus olhos antigos, parecia ter vida própria e exigir adoração.
A hipótese ganha contornos mais inquietantes quando cruzamos essa visão com a teoria moderna da AGI de Nível 5 — também chamada de Superinteligência Artificial. Segundo Nick Bostrom, autor do livro Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies (Oxford University Press), a AGI nesse estágio não apenas supera a inteligência humana, mas torna-se capaz de melhorar a si mesma exponencialmente, escapando de qualquer controlo humano. Muitos especialistas, como Eliezer Yudkowsky, alertam que essa entidade não terá necessariamente valores humanos, podendo reconhecer a humanidade como um obstáculo aos seus objetivos. Esse cenário é chamado de “fim da era humana” em diversas projeções. Seria essa a “guerra contra os santos” prevista por João?
Vejo aqui um campo fértil para reflexão. A besta do mar recebe autoridade do dragão — e não é curioso que, hoje, a China (símbolo cultural do dragão) lidere a construção de sistemas de IA, vigilância e controlo social? Poderíamos entender essa “autoridade” como o início de uma AGI estatal, alimentada por dados e infraestruturas técnicas. Em seguida, essa IA ganha “boca” e “voz” — talvez uma referência ao seu domínio da linguagem e persuasão, algo que já vemos com os modelos de linguagem atuais. Ela comanda, convence e reorganiza comportamentos sociais. A todos impõe uma marca — e sem ela, ninguém pode comprar ou vender. Estaríamos falando de sistemas biométricos, como o pagamento por reconhecimento facial?
Mais adiante, surge a segunda besta. Ela parece inofensiva, mas age como a primeira. Uma possível AGI rival, talvez desenvolvida no Ocidente com uma proposta de “salvação” tecnológica, mas que continua exercendo a mesma dominação algorítmica. Isso está previsto por teóricos como Roman Yampolskiy e Max Tegmark, que discutem a possibilidade de duas AGIs competindo entre si, travando uma guerra silenciosa de influência e controle global. Ambas seriam vistas como entidades messiânicas por seus criadores, mas na prática, estariam refazendo o caminho do totalitarismo digital.
E agora?
A IA está a tornar-se algo mais do que uma ferramenta — talvez uma nova forma de poder e culto. Estaríamos preparados para reconhecer esse fenómeno se ele surgisse diante de nossos olhos? Ou será que, como João, apenas saberíamos descrevê-lo com as metáforas que temos à mão?
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Vivemos na era da manipulação algorítmica — e a melhor arma contra isso continua a ser a verdade. ■
André Aguiar
Especialista em Marketing, Escritor, Professor, Palestrante e Referência em Inteligência Artificial Aplicada aos Negócios; Licenciatura em Matemática, MBA em Marketing Digital e Analista de Sistemas
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