Autarca de Castro Daire celebra condecoração de Maria Alcina no Brasil

Paulo Almeida destaca ligação da fadista ao concelho e o valor do reconhecimento oficial atribuído no Rio de Janeiro; Medalha de mérito das Comunidades Portuguesas é “motivo de orgulho” na região

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Paulo Almeida, presidente da Câmara Municipal de Castro Daire, Portugal
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Paulo Almeida, presidente da Câmara Municipal de Castro Daire, comemorou a recente homenagem recebida pela fadista castrense Maria Alcina no Brasil. Residente no Rio de Janeiro há mais de 70 anos, a fadista, natural de Cetos, foi condecorada nos últimos dias pelo Governo português, nas instalações do Real Gabinete Português de Leitura, no centro da cidade maravilhosa, com uma das mais altas distinções de Portugal. Alcina recebeu a “Medalha de mérito das Comunidades Portuguesas – Grau Ouro”, entregue pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Emídio Sousa, após proposta do Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro, num evento que contou com a presença do embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, da Cônsul-Geral de Portugal no Rio de Janeiro, Gabriela Soares de Albergaria, do presidente da Associação Luís de Camões, Francisco Gomes da Costa, entre outras autoridades.

Em declarações à nossa reportagem, Paulo Almeida sublinhou o orgulho em ver uma filha da terra contar com uma carreira internacional de bastante relevância e respeito.

“Obviamente que isto é um grande orgulho para mim, como presidente de Câmara, mas acho que é um orgulho grande para o concelho de Castro de Daire, porque a Maria Alcina é uma grande embaixadora da cultura e de Castro de Daire no Brasil. Para nós, ver que alguém que é dos nossos, alguém originária do nosso concelho, ter sido homenageada, e não é uma homenagem qualquer, pelo governo de Portugal, deixa Castro Daire com uma enorme satisfação e uma enorme alegria, em virtude daquilo que ela representa ainda no Rio de Janeiro, para a cultura e para o fado no Brasil”, disse Paulo Almeida, presidente da Câmara Municipal de Castro Daire.

O autarca acredita que este sentimento de orgulho é partilhado por outros emigrantes da região espalhados pelo mundo.

“Eu não tenho dúvida nenhuma. Eu acho que quem está fora do país olha sempre para a sua terra natal com um amor especial. E a Maria Alcina, com esta distinção, representa aquilo que é toda a comunidade emigrante além-fronteiras. E, por isso, esta distinção é um orgulho para toda a comunidade castrense porque há muitas pessoas que estão no estrangeiro, em virtude de contingências da vida, que emigraram, mas que sempre sentiram a sua terra de uma forma muito forte. E este prémio que ela recebe é também o reconhecimento daquilo que é o trabalho de toda a comunidade emigrante além de fronteiras. Essa distinção tem esses significados extremamente importantes, não só para ela, mas também para toda a comunidade castrense”, frisou Paulo Almeida.

Alcina deixou Castro Daire em 1953, aos 14 anos, com a sua mãe, numa época de pouco desenvolvimento local e nacional, além das dificuldades sociais e financeiras tradicionais na altura. Passado o tempo, conquistou os palcos do Brasil, da América do Sul e de Portugal. Foi condecorada, teve uma avenida batizada com o seu nome em Castro Daire, abriu uma das primeiras casas de fado da América Latina, no Rio de Janeiro, atuou com grandes nomes e cantou em 1974 num grande espetáculo no Casino Estoril.

Em 1953, Castro Daire era um concelho rural, com cerca de 26 mil habitantes, uma população jovem e economia baseada na agricultura de subsistência. O acesso a serviços como educação, saúde e transportes era limitado, refletindo as dificuldades típicas do Interior português da época, o que levou muitas famílias a emigraram, grande parte, para o Brasil. Hoje, apesar de um forte envelhecimento da população, a economia castrense diversificou-se, com pequena indústria, comércio e turismo. Os serviços públicos melhoraram, com mais escolas e infraestruturas rodoviárias, porém, persistem desigualdades sociais, apesar dos avanços tecnológicos e institucionais. Uma realidade que está sempre a mudar.

“Castro Daire é hoje um concelho que também evoluiu ao longo dos anos, sendo uma referência regional e nacional em muitas áreas de intervenção. E isto também acontece porque existiu a capacidade de envolver toda a comunidade, as pessoas, as instituições, as empresas, as associações num trabalho conjunto interno e, depois, alavancado também com aquilo que tem sido esta abertura do concelho ao país e ao mundo, através da competência, do conhecimento das estruturas nacionais, regionais e internacionais, que nos dão dimensão em muitas áreas. E é por isso que hoje em dia temos eventos internacionais e pessoas a representarem o nosso concelho em grandes competições, pessoas com prémios e distinções internacionais. E isto resulta muito da existência de muitas “Marias Alcinas”, mas também de muito trabalho de muitos castrenses que, cada um no seu canto, tem feito um trabalho extraordinário. E a Maria Alcina fadista acaba por ser um expoente deste reconhecimento do trabalho das gentes de Castro Daire”, contou o edil.

Caminho inverso

Castro Daire vive um novo momento com a chegada de emigrantes portugueses que decidem voltar a viver na região, mas também imigrantes de várias partes do mundo. Depois de décadas de despovoamento e envelhecimento, o concelho começa a atrair estrangeiros, sobretudo através de iniciativas nacionais como o “Programa Regressar”. A Câmara Municipal aposta na fixação de profissionais qualificados e trabalhadores em setores carenciados. Embora ainda em fase inicial, fontes indicam que este movimento pode ajudar a revitalizar a economia local e inverter a perda demográfica. O sucesso dependerá da capacidade de integração, com habitação, serviços e apoio às novas comunidades.

“Hoje em dia temos tido um crescimento no número de pessoas novas a virem para Castro Daire, um território atrativo em termos de pessoas, de investimentos, de turistas e é também um concelho com muita qualidade de vida. Porque, aliado àquilo que são as condições naturais extraordinárias que temos, todo o trabalho que temos vindo a fazer na educação, na saúde, na mobilidade, acessibilidades, vieram posicionar o concelho num território que tem tudo para que se possa viver com qualidade de vida. Acho que este trabalho também está a dar resultados”, sublinhou Paulo Almeida.

Recordar as raízes

Maria Alcina nasceu a 12 de março de 1939 e é hoje um ícone vivo da música portuguesa na diáspora, com mais de seis décadas de carreira em terras brasileiras.

Radicada no Rio de Janeiro desde 1953, foi pioneira no fado no Brasil, sendo reconhecida como a voz que fez renascer o género em solo sul-americano. No Rio de Janeiro, começou a cantar fado e fez do estilo musical mais característico de Portugal uma autêntica forma de vida. A sua história é repleta de desafios, como o início difícil, incluindo episódios de violência doméstica no seu primeiro casamento.

Durante a sua vida artística, Alcina atuou com grandes nomes do fado, como Amália Rodrigues e Carlos do Carmo. Cantou em casas no eixo Rio-São Paulo e teve a sua própria casa de fados, “A Desgarrada”, na zona Sul carioca. Maria Alcina é e foi presença frequente em programas de televisão, radiofónicos e chegou a ter o seu próprio programa de rádio. Lançou LPs, compactos, dois CDs, DVD e foi protagonista, em 2015, do livro-reportagem “Maria Alcina, a força infinita do Fado”, de autoria do jornalista luso-brasileiro Ígor Lopes. Foi também uma das quatro personagens destacadas na obra “Luso-Brasilidade Musical – A influência da música na ligação entre Brasil e Portugal”, do mesmo autor, um livro editado pela Funarte.

A fadista participou também em peças de teatro e foi personagem em documentários premiados pelos críticos. É detentora de diversos prémios, distinções e comendas. Foi homenageada recentemente pela Academia Luso-Brasileira de Letras e pela Academia de Filosofia e Ciências Humanísticas Lucentina. Participou em telenovelas, minisséries e assinou a banda sonora de muitos trabalhos televisivos. Atuou em diversas atividades sociais, com o seu canto, apoiando os portugueses, e não só, com mais dificuldades no Brasil, “emprestando” gratuitamente a sua arte.

Apaixonada pelo Brasil, Alcina é mãe de três filhas: Ângela, Alcinele e Eliane. É viúva do empresário português João Duarte, falecido em 2014, com quem compartilhou um segundo casamento, sendo ele também natural de Castro Daire.

Pontos de destaque no currículo

Foi reconhecida “Rainha da Desgarrada”, eleita pelo Programa de TV “Domingo em Portugal”, em dupla com António Campos, em 1970. Foi presença habitual nas principais casas regionais portuguesas no Brasil, apresentou-se em diversos países e estados brasileiros, além, claro, de Portugal.

Em 1993, foi inaugurada a Avenida Maria Alcina Fadista, em Castro Daire, a sua terra natal. Em 2002, tornou-se a primeira fadista a pisar a Marquês de Sapucaí, durante o desfile da Unidos da Tijuca, levando o fado à passarela do samba. Foi a primeira mulher a dar o famoso “grito de saída” da escola de samba Unidos da Tijuca, em ritmo de fado, na Marquês de Sapucaí, palco do carnaval carioca. Em 2015, foi homenageada no Festival de Fado da Cidade das Artes, no Rio, onde Carlos do Carmo a consagrou “Imperatriz do Fado”, pelo seu esforço em dignificar a alma portuguesa através da música em solo brasileiro. ■

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