
Domingos Cunha desembarcou no Rio de Janeiro em 1964, com apenas 14 anos e uma mala cheia de sonhos. Vinha de Póvoa de Lanhoso, no Norte de Portugal, num período de intensa emigração. Como milhares de compatriotas, buscava no Brasil a oportunidade de construir uma vida melhor e encontrou, nas ruas cariocas, uma comunidade portuguesa que mantinha vivas as tradições da terra natal: uma chegada marcada pela saudade e pelo trabalho.
Primeiro, morou em Vila Isabel, bairro da Zona Norte carioca. Domingos trabalhou ainda jovem em mercearias e padarias, ofícios comuns entre imigrantes. A saudade, porém, logo o aproximou das associações culturais portuguesas que se multiplicavam pela cidade desde o início do século XX. Foi nesse ambiente que conheceu a Casa do Minho do Rio de Janeiro, uma das mais ativas instituições lusas da capital, e o Rancho Folclórico Maria da Fonte, do qual se tornaria integrante e entusiasta.
Fundada em 08 de março de 1924, a Casa do Minho é referência da comunidade portuguesa no Brasil. Ali, o Rancho Folclórico Maria da Fonte tornou-se símbolo de identidade e memória, resgatando as danças, os trajes e as canções do Norte de Portugal.
“Entrei para a Casa do Minho do Rio de Janeiro em 1964, o ensaiador era Benjamin Pires, a sede ainda era na rua conselheiro Josino. Foi uma época incrível, pois era no Rancho Folclórico Maria da Fonte que eu matava as saudades da minha terra Natal, pois tinha apenas 14 anos, e recém chegado de Portugal”, recordou Domingos.

No Rancho Folclórico, Domingos conheceu outros imigrantes, fez amigos e, mais tarde, Perci, a mulher com quem vive até hoje e que “foi diretora da Casa durante a gestão de Miranda Matos”.
A Casa do Minho transformou-se num ponto de encontro e integração, onde as diferenças entre Brasil e Portugal se desfaziam em sotaques misturados, fados e conversas à mesa.
Nos anos 1970, Domingos mudou-se para Volta Redonda, município do Sul Fluminense, para trabalhar numa empresa local, onde continuou ligado à comunidade portuguesa e manteve viva a paixão pelo folclore.
“Deixei a Casa em 1973 quando comprei um posto de gasolina em Volta Redonda. Nessa região, ajudei a fundar a Casa de Portugal de Volta Redonda”, completou.
De volta ao Rio, decidiu investir num antigo desejo: abrir o próprio negócio, tornando-se, nos anos 1980, sócio do Bar e Restaurante Glória, tradicional estabelecimento fundado em 1945 e localizado na Rua Acre, nº 6, bairro da Saúde, próximo à Praça Mauá, que marca o início da Avenida Rio Branco, na zona central da cidade.
Uma vida marcada pela imigração, pelas saudades de Portugal, pelo carinho com o folclore e pelo amor ao Brasil. ■