Escritor português, João Morgado encerra a primeira edição da Fliporto Portugal com reflexão sobre Camões, Nabuco e o futuro da lusofonia

“Nabuco entendeu que a língua portuguesa podia ser, ao mesmo tempo, uma herança e um destino. Nabuco não quis apagar o passado, quis transformá-lo em diálogo. Foi um percursor da Lusofonia”, disse o autor

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Foto: Agência Incomparáveis
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O escritor português João Morgado foi o responsável por encerrar a primeira edição da Festa Literária de Pernambuco – Fliporto em Portugal, que decorreu entre 22 e 25 de outubro, no Mosteiro de Leça do Balio, sede da Fundação Livraria Lello, em Matosinhos. A convite de Antônio Campos, presidente do Instituto Fliporto no Brasil, o autor protagonizou um momento alto do festival com uma intervenção profundamente literária e politicamente reflexiva, sob o tema: “Nabuco e Camões: dois visionários da lusofonia”.

Ao lado do próprio Antônio Campos, ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco e grande especialista da sua obra, João Morgado traçou um paralelo entre o poeta português Luís de Camões e o pensador brasileiro Joaquim Nabuco, realçando o que os separa: três séculos e dois continentes, mas, sobretudo, aquilo que os uniu: uma visão de futuro para a língua portuguesa como um território comum, feito de humanidade, ética e pertença cultural. Recordemos que Nabuco foi o grande defensor do abolicionismo no Brasil.

Na sua intervenção, o escritor destacou que “Camões deu-nos uma língua; Nabuco deu-nos uma visão”, sublinhando que, para o intelectual brasileiro, “Os Lusíadas” não eram apenas a epopeia de um império, mas um património literário e moral que também pertencia ao Brasil, e que projetava a língua portuguesa como ponte de civilização, não como herança colonial.

“Nabuco entendeu que a língua portuguesa podia ser, ao mesmo tempo, uma herança e um destino. Nabuco não quis apagar o passado, quis transformá-lo em diálogo. Foi um percursor da Lusofonia”, disse.

Com ironia e atualidade, João Morgado desafiou os presentes: “A questão que nos fica é: nós honrámos essa visão? Ou deixámos que ela se perdesse no caminho?”. A intervenção terminou com uma poderosa evocação do crescimento geopolítico do português, hoje falado por mais de 270 milhões de pessoas, lembrando que “a profecia de Nabuco cumpriu-se: o português tornou-se uma língua global, uma língua de futuro”.

Além da sua participação no painel sobre Camões e Nabuco, João Morgado apresentou a nova edição do clássico da poesia brasileira “Livro Geral”, de Carlos Pena Filho, agora republicado pela editora “Novembro”. Numa leitura sensível e cativante, o autor destacou a singularidade lírica e visual de Pena Filho, escolhendo dois poemas marcantes: Azul e Testamento do Homem Sensato, que comoveram o público presente.

“Este é um poeta que pintava com palavras, cuja poesia azul atravessa o Atlântico e continua a tocar corações portugueses e brasileiros”, referiu Morgado.

A primeira edição internacional da Fliporto Portugal, que celebra 20 anos em 2025, afirma-se assim como uma plataforma essencial para o reforço dos laços literários e culturais no espaço lusófono, unindo autores, leitores e instituições dos dois lados do Atlântico. A participação de João Morgado, reconhecido pela sua escrita histórica e sensibilidade humanista, reforça a relevância do evento enquanto espaço de pensamento e criação partilhada, que agora chega a Portugal.

O painel foi moderado pelo jornalista e escritor luso-brasileiro Ígor Lopes. ■

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