Prémio “Caminhos de Literatura 2025” será entregue durante a Fliporto a escritora Paula Novais

Escritora mineira estreia-se no romance com obra sobre o luto, a memória e a resistência feminina, que será publicada no Brasil e em Angola; “Gaiolas de concreto armado” conquistou o júri

0
26
Nascida em Minas Gerais e radicada no Rio de Janeiro, Paula Novais é formada em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foto: divulgação
- Publicidade -

A escritora e advogada mineira Paula Novais foi a vencedora da segunda edição do Prémio Caminhos de Literatura 2025, distinção criada pelo escritor e curador Henrique Rodrigues para revelar novos talentos da ficção em língua portuguesa. O anúncio foi feito após um processo de seleção que envolveu mais de 200 obras inscritas, com o júri final composto por Airton Souza e Cintia Moscovich. O romance “Gaiolas de concreto armado” foi escolhido como melhor obra inédita de estreia e será publicado em 2026 pelas editoras Dublinense, no Brasil, e Kacimbo, em Angola.

O prémio, promovido pelo Instituto Caminhos da Palavra, oferece à vencedora uma mentoria sobre carreira e mercado literário, um adiantamento de R$ 5.000, cerca de 830 euros, e participações confirmadas na Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), neste mês de novembro, e no Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), em maio de 2026.

Nascida em Minas Gerais e radicada no Rio de Janeiro, Paula Novais é formada em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Já foi distinguida pela União Brasileira de Escritores nos concursos Anna Maria Martins (contos) e Ruth Guimarães (crónicas). Em 2022, publicou Ambidestria, livro de contos editado pela Urutau.

Ao comentar a conquista, Paula Novais destacou o simbolismo do prémio e o reconhecimento de uma trajetória literária construída com rigor e sensibilidade.

“O Prémio Caminhos de Literatura é uma premiação relevante, organizada pelo Henrique Rodrigues e pelo Instituto Caminhos da Palavra, que têm uma trajetória corajosa no circuito de premiações”, afirmou a autora à nossa reportagem, que acrescentou ainda que a vitória representa “uma oportunidade maravilhosa poder publicar o meu romance de estreia pela Dublinense, cujo projeto editorial admiro tanto”.

A autora realçou o alcance lusófono da distinção e o seu significado cultural.

“Foi com imensa alegria que recebi a notícia de que “Gaiolas de concreto armado” tinha sido escolhido pelo júri do Prémio Caminhos de Literatura e que seria publicado não só pela Dublinense, como pela Kacimbo, sediada em Angola, país com quem o Brasil tem uma história compartilhada para muito além da lusofonia. Sinto-me honrada por poder publicar o meu romance em duas casas editoriais tão prestigiosas”, afirmou.

O romance, que conquistou unanimidade do júri, mergulha no contexto recente da pandemia e nas feridas sociais que se abriram nesse período.

““Gaiolas de concreto armado” acompanha os acontecimentos pelo olhar de Nerissa, uma jovem que tem a sua vida arruinada pela pandemia, vivendo com ela o luto pela perda da mãe, a derrocada de suas poucas oportunidades, a dificuldade de encontrar um lugar de pertencimento no Rio de Janeiro, cidade pela qual ela cultiva um amor desencantado”, explicou a autora.

A narrativa, observou Paula, ganha densidade a partir da amizade entre Nerissa e Alzira, sua vizinha num edifício caótico em Copacabana.

“É desse encontro, entre duas mulheres de gerações e origens tão diversas, que surgirão novas possibilidades de leitura do mundo contemporâneo e do resgate de registros que dormitavam na memória de Alzira, alguns desde o golpe de 1964. Paulatinamente unidas pelas suas solidões privadas, ambas perceberão que o tempo é uma via em que podemos transitar por meio da memória. E que o passado, uma vez revisitado e recontado a partir do presente, não só pode ser revisto, como também modificado”, contou.

Para a autora, o cenário carioca é um elemento narrativo essencial.

“Nesse contexto, a cidade assoma como cenário e personagem, impactando com a sua violência, e de forma ainda mais aguda, a vida de mulheres de todas as idades e classes sociais”, descreveu.

Henrique Rodrigues, criador e curador do prémio. Foto: Vanessa Henz

Henrique Rodrigues, criador e curador do prémio, sublinhou a qualidade literária da obra.

“O romance de Paula Novais é incrivelmente bem escrito, com técnica de quem conhece o ofício da escrita e tem olhar sensível para a nossa história recente. E fico especialmente feliz pela descoberta de mais uma mulher, contribuindo para minimizar a desigualdade de género que existe no meio editorial”, afirmou o escritor, que também é curador do Prémio Pallas e colunista do PublishNews.

Segundo apurámos, os jurados destacaram a força narrativa e a profundidade temática da obra.

““Gaiolas de concreto armado” tem um trabalho com a linguagem que atravessa o nosso tempo. Uma narrativa que fascina porque escancara feridas abertas que atravessam a história brasileira, sobretudo, marcada pelas violências contra as mulheres”, observou Airton Souza.

Já Cintia Moscovich acrescentou que o livro é “cru, forte e denso: as cenas de abuso sexual, embora cruéis, são necessárias e convincentes, plenas daquela violência que as mulheres escondem, mas que precisa ser escancarada até não mais existir”.

Com a publicação simultânea em dois continentes, Paula Novais integra agora o catálogo de uma das editoras mais relevantes da literatura contemporânea em língua portuguesa.

“Depois do sucesso de mãezinha, recebemos com alegria a notícia de mais uma voz feminina a ganhar espaço pela potência da sua literatura”, disse Rodrigo Rosp, editor da Dublinense. Por seu turno, Ondjaki, membro do conselho editorial da Kacimbo, destacou que a editora Kacimbo “congratula o Instituto Caminhos pelo veredicto e espera que, para a premiada Paula Novais, publicar em Angola seja uma parte bonita e cultural desta iniciativa”.

Criado em 2024, o projeto mantém parcerias com editoras de referência e aposta na liberdade criativa e na bibliodiversidade.

“Vivemos num período em que posturas censoras têm tentado cercear a literatura. Se isso ocorre em obras já publicadas de autores conhecidos, um prémio para inéditos precisa garantir a liberdade expressiva dos participantes, o que é uma diretriz do Prémio Caminhos”, finalizou Rodrigues.  ■

- Publicidade -

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.