
A cidade de São Paulo, no Brasil, viveu, entre 24 e 25 de maio, a primeira edição da Virada Cultural Literária Lusófona, idealizada sob a orientação do curador José Manuel Diogo, que atualmente exerce as funções de presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos, presidente da Casa da Cidadania da Língua e curador cultural. O evento, realizado na Biblioteca Mário de Andrade com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, transformou-se numa maratona literária de 24 horas ininterruptas. Contou com mesas redondas, recitais de poesia, slams e debates que visaram “destacar a língua portuguesa como motor de encontros, resistência e transformação cultural”.
Dois meses após o evento, que reuniu um grande público e grandes autores na maior cidade da América Latina, conversamos com José Manuel Diogo sobre os resultados do encontro e os projetos futuros em torno das relações culturais entre o Brasil e Portugal.
Como avalia os resultados da Virada Lusófona?
A primeira edição da Virada Lusófona foi um acontecimento cultural e simbólico de grande envergadura. Conseguimos fazer de São Paulo, e da Biblioteca Mário de Andrade, em particular, o epicentro da palavra em português no século XXI. Durante 24 horas ininterruptas, provamos que a língua portuguesa é mais do que herança: é potência. A energia da prefeitura, na figura inspiradora do secretário Totó Parente, foi decisiva para transformar a ideia em movimento. O evento não apenas funcionou, mas fundou um novo tempo para a cooperação cultural entre os países e territórios da língua portuguesa.
Que momentos foram mais marcantes durante o Programa?
A madrugada literária no coração da cidade foi histórica. A biblioteca aberta às 3 da manhã, com poetas periféricos, escritores africanos e jovens leitores reunidos num mesmo espaço de escuta e criação, revelou a verdadeira alma da língua: plural, inquieta e viva. Destaco também a mesa de abertura, com um chamado político e poético à centralidade de São Paulo no universo lusófono, e o emocionante encerramento com Itamar Vieira Junior. Cada uma das doze mesas foi cuidadosamente pensada para desenhar uma cartografia da lusofonia que respeita as diferenças e promove os encontros.
Acredita que esse perfil de programa e atividade, como a realização da Virada Lusófona, são positivos para a promoção da lusofonia e das relações entre o Brasil e Portugal em torno da língua?
Mais do que positivos, são urgentes. A cooperação internacional em torno da língua portuguesa precisa ser reposicionada no século XXI. E São Paulo, pela sua diversidade, escala e capacidade institucional, é o lugar ideal para isso.
A Virada Lusófona demonstrou que é possível construir diplomacia cultural com base em afeto, pensamento crítico e protagonismo periférico. Portugal e Brasil, juntos, podem liderar esse novo ciclo, e o gesto inaugural aconteceu na cidade mais populosa do sul global, com o apoio firme e convicto da prefeitura.
Que ‘feedback’ recebeu dos parceiros e dos participantes?
Recebemos manifestações emocionadas. Instituições internacionais, escritores consagrados e novos autores reconheceram a Virada como um marco. A Biblioteca Mário de Andrade voltou a ser percebida como uma “ágora” contemporânea da palavra. Muitos pediram que esta experiência se repita, se expanda e se transforme num calendário fixo da lusofonia. Mas talvez o maior elogio tenha vindo de uma jovem participante que, ao sair de uma mesa de debate às cinco da manhã, disse: “Esta é a primeira vez que sinto que a língua portuguesa também é minha.” Isso diz tudo. ■