
A assinatura do esperado acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, inicialmente prevista para dezembro de 2025, foi adiada para o início de janeiro devido a resistências internas em países europeus, especialmente Itália e França, que exigiram garantias adicionais para o setor agrícola.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que a assinatura formal do acordo de livre comércio com os países do Mercosul – bloco económico constituído por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – será adiada para o próximo ano, depois de um pedido de mais tempo feito pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, para responder às preocupações sobretudo dos agricultores italianos.
“O governo italiano sempre foi claro ao dizer que o acordo deve ser benéfico para todos os setores e que, portanto, é necessário abordar, em particular, as preocupações dos nossos agricultores”, sublinhou Meloni.
O chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, também se posicionou contra a assinatura deste acordo: “Quero dizer aos nossos agricultores que manifestam a clareza da posição da França desde o início – em relação ao Mercosul, consideramos que não está tudo certo e que este acordo não pode ser assinado“, afirmou Macron.
França e Itália, em particular, têm pressionado as instituições europeias para garantir salvaguardas adicionais para o setor agrícola, em particular cláusulas de reciprocidade em matéria de normas ambientais e sanitárias de produção que protejam os produtores locais face à concorrência sul-americana.
A resistência de alguns Estados-Membros tem alimentado o adiamento, apesar do apoio declarado de países como Alemanha e Espanha à conclusão do acordo.
Em resposta, a Comissão Europeia já afirmou que está pronta a apoiar os Estados-Membros e agricultores para que o tratado seja fechado “o mais rapidamente possível”, sublinhando a importância do acordo para fortalecer a presença comercial e política da UE na América Latina, impulsionar a competitividade e abrir novas oportunidades de exportação num mercado económico em claro crescimento.
O adiamento para janeiro ocorre num momento em que o Brasil, tal como outros membros do Mercosul, espera uma conclusão rápida do pacto, dado o seu potencial impacto no comércio internacional e no multilateralismo.
“Eu posso dizer para vocês que o mundo está ávido a fazer acordo com o Mercosul. Tem muitos países querendo fazer acordo com o Mercosul. E nós, certamente, vamos conseguir nesse período fazer os acordos que não foram possíveis realizar na minha presidência”, disse Lula da Silva em reação ao adiamento europeu.
A assinatura representará a criação de uma das maiores zonas de comércio livre do mundo, abrangendo centenas de milhões de consumidores e uma significativa quota do Produto Interno Bruto global.
Num artigo publicado no Diário de Notícias Brasil, Otacílio Soares, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira (CCILB), sublinhou que “mais do que simbolismo, o adiamento [da assinatura do acordo] terá efeitos práticos e imediatos sobre investimentos, emprego e crescimento económico”.
“A experiência mostra que negociações prolongadas em que não se vislumbra o fim acabam correntemente por destruir a confiança alicerçada ao longo dos anos. E a confiança é um elemento essencial na economia mundial”, acrescentou.
O presidente da CCILB terminou referindo que “o acordo em causa é uma forma de facilitar o fluxo de bens e serviços, de reduzir obstáculos regulamentares e de criar um ambiente mais propício ao investimento produtivo”.
“Para as empresas, representa eficiência acrescida e segurança jurídica; para os países que participam, as vantagens são crescimento, renovação económica e um forte acréscimo da sua inserção nas cadeias de valor globais”, concluiu. ■




