Primeira e única mulher a dirigir o Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro (CRA-RJ), no Brasil, Gilda Nunes ganhou registo da sua trajetória com o lançamento da biografia “Gilda Nunes, Administradora do Impossível”, uma obra escrita por Carlos Eduardo Drummond, autor com experiência literário, assinando livros como “Tempos Modernos” e a biografia de Caetano Veloso. O trabalho atual reúne relatos inéditos, documentos históricos e depoimentos emocionantes.
Líder num período de intensas transformações políticas e económicas, Gilda Nunes presidiu ao CRA-RJ ao longo de uma década, enfrentando momentos decisivos como o Plano Collor, lançado em março de 1990 pelo governo Fernando Collor e criado para travar a hiperinflação no Brasil, marcado sobretudo pelo confisco de ativos financeiros, bem como a edificação da sonhada sede própria da instituição, hoje um prédio de sete andares na Tijuca, bairro carioca onde vivem muitos portugueses e lusodescendentes, um marco da consolidação do Conselho no estado.
A obra “Gilda Nunes, Administradora do Impossível” reconstrói essa trajetória com profundidade e sensibilidade, ou seja, Drummond percorre desde a vida pessoal da administradora — filha, mãe, aluna, esposa — até aos seus desafios e superações no universo profissional, revelando a força, a ética e a identidade de uma mulher que rompeu barreiras e deixou impacto duradouro na área.
Protagonista com ligação a Portugal
Como sublinha o primeiro capítulo do livro, Gilda Nunes era lusodescendente, filha de Joaquim Nunes da Fonseca, português natural da freguesia de Pardilhó, município de Estarreja, no distrito de Aveiro, Norte de Portugal, um dos milhares de jovens portugueses que deixaram o país no início da década de 1920.
Joaquim, aos 17 anos, partiu para o Brasil pelo medo de ser recrutado para servir na África, onde Portugal mantinha uma relação colonial dura, e também pela oportunidade de reencontrar os irmãos que já haviam emigrado para o Rio de Janeiro.
O Portugal que ele deixou para trás vivia as tensões do pós-Primeira Guerra Mundial, o impacto da gripe espanhola, as dificuldades económicas e a falta de oportunidades e as exigências militares de manutenção dos seus domínios africanos.
No Brasil, como muitos outros portugueses, Joaquim trabalhou no comércio de padarias até estabilizar a sua vida e formar família com Silvia Tayt-Sohn; dessa união nasceu, a 6 de julho de 1945, no Rio de Janeiro, Gilda Nunes, herdando do pai o caráter disciplinado, a vocação administrativa e o orgulho silencioso das suas raízes lusitanas, que moldariam o seu olhar e a sua força na vida adulta.
Para Wagner Siqueira, atual presidente do CRA-RJ e viúvo de Gilda Nunes, revisitar a história da administradora não só reafirma a incontornável contribuição de Gilda Nunes para a profissão como também inspira as novas gerações pela sua liderança exemplar e coragem para enfrentar desafios complexos, uma atuação que reforçou o papel da mulher no ambiente corporativo e na gestão pública brasileira.
Siqueira destaca também que o pensamento de Gilda permanece atual, baseado na compreensão humana das organizações, na interdependência e no compromisso com o bem comum.
O livro “Gilda Nunes, Administradora do Impossível” está disponível gratuitamente no site da plataforma ADM Livros, que reúne documentos, imagens e depoimentos que permitem compreender a trajetória de uma das figuras mais importantes da Administração no Rio de Janeiro e no país. ■
