
Internacionalmente reconhecida, com livros traduzidos para mais de 20 idiomas e uma ficção sobre os processos de exclusão do ser humano pelo próprio ser humano, a escritora ruandense Scholastique Mukasonga, já com novo livro previsto pela Editora Nós a ser publicado em 2026 no Brasil, estará, dia 8 de outubro, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, Brasil, para conversar com o público do Clube de Leitura CCBB 2025, após ser a escritora homenageada pela edição de 2025 da Fliaraxá, em Minas Gerais. Scholastique Mukasonga, nascida em Ruanda, é uma sobrevivente do genocídio dos Tutsis em 1994. Escritora reconhecida, os seus livros foram traduzidos para mais de vinte idiomas e receberam diversos prêmios tanto na França quanto nos EUA. Cinco de suas obras foram publicadas no Brasil pela editora Nós.
O público escolheu, numa votação aberta pelo Instagram do CCBB RJ, o livro que será tema do debate, “A mulher de pés descalços”. Nele, ela trata de maneira pungente dos conflitos enfrentados pelas mulheres na Ruanda das lutas fratricidas entre as etnias Tutsi e Hutu que culminaram com o ominoso genocídio praticado pelos hutus em 1994. Naquele momento, Scholastique Mukasonga, que é da etnia tutsi, já estava radicada na França, e viu à distância sua família ser dizimada. Escritora e ativista da diáspora negra, ela toma para si o chamamento para dar voz à dor e à perda, principalmente de sua mãe Stefania, cuja memória é homenageada neste livro.
A presença dela no Clube de Leitura vem da vontade da curadoria de oferecer um pouco mais da literatura produzida (desta vez) na África francófona, particularmente no que diz respeito à escrita feminina.
“Começamos o ano com a escritora ítalo somali Igiaba Scego e seguimos com a de Scholastique num claro desejo de mostrar uma outra África que não a que se expressa em língua portuguesa, como até aqui vínhamos fazendo”, compara Suzana Vargas, curadora e mediadora do Clube de Leitura CCBB 2025.
A autora, que passou a ser (re)conhecida por ser guardiã da história de seu povo, descortina a realidade de Ruanda, um país africano do qual só se tiveram notícias a partir do massacre de sua população no ano de 1994 do qual nem a ONU, nem os Estados Unidos, tomaram conhecimento.
Em 2026, ela lançará o romance Julienne, em que Mukasonga conta a história da irmã, morta durante o genocídio de Ruanda.
Segundo Suzana Vargas, a autora trabalha com uma espécie de autoficção cujo efeito sobre os leitores é o de uma reconstrução de suas raízes e conflitos através da literatura.
“Trazê-la ao Brasil e estudá-la no Clube tem a função de revelar uma África desconhecida, com lutas internas que não são somente as da colonização e todas as suas consequências. Destaca-se o papel da mulher e sua sobrevivência, particularmente sofrida e invisibilizada, como no caso de Ruanda”, reforça Suzana, para quem Scholastique pratica o que se poderia chamar de literatura do trauma, “uma forma de lidar com experiências profundamente transformadoras”.
Para Scholastique Mussonga, o Brasil tornou-se outro lar para após ter publicado seus livros e ter a recepção que teve pelo mercado editorial brasileiro. E cita que gosta, durante as feiras e sessões de autógrafos, do contato com leitores, “como se fosse entre irmãs e irmãos, que me trazem de volta ao meu lar, aos tempos em que, voltando do internato no colégio, minha mãe, Stéfania, me recebia no umbral da casa e me apertava longamente, com afeto, nos braços. É isso que sinto junto de minhas irmãs e irmãos brasileiros”, compara a escritora.
O encontro acontece em 08 de outubro, a partir das 17h30, na Biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ). A entrada é gratuita e os ingressos ficam disponíveis a partir das 9h da manhã do dia do evento, que tem o patrocínio do Banco do Brasil.
Clube de Leitura CCBB completa quatro anos
Com mediação de Suzana Vargas, também curadora do evento, e do poeta Ramon Nunes Mello, a edição de 2025 do Clube de Leitura CCBB pretende trabalhar as relações da literatura com as outras artes: música, teatro, cinema. O objetivo, segundo Suzana, é levar o público leitor a perceber como a palavra rege quaisquer manifestações artísticas.
“Clássicos da literatura, autores contemporâneos, dramaturgos, escritores que expressam parte da alma brasileira, poetas do cotidiano estão programados para essa nova temporada. Com ela pensamos atingir um público mais amplo, diverso, bem como fazer com que os livros sejam compreendidos mais além de suas fronteiras escritas”, antecipa a curadora.
O Clube de Leitura CCBB conta com o patrocínio do Banco do Brasil para trazer mais uma vez ao país outros escritores internacionais, como já fez com Mia Couto, José Eduardo Agualusa, Leonardo Padura, Pepetela e muitos, e como mais uma forma de contribuir para a visibilidade da leitura como importante veículo de conhecimento e cidadania.
“A Biblioteca Banco do Brasil, instalada no 5º andar do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro hoje disponibiliza mais de 250 mil títulos ao público frequentador, gratuitamente, e é uma das bibliotecas com maior extensão de funcionamento diário – das 9h às 20h, incluindo sábados, domingos e feriados. Em 2024, foram mais de 126 mil leitores atendidos. A iniciativa do Clube de Leitura CCBB, criado em 2022, tem se mostrado cada vez mais relevante para aproximar o público frequentador do CCBB das artes literárias, popularizando o tema, o tornando acessível e contribuindo para a reflexão sobre a importância da leitura no mundo contemporâneo”, afirma Sueli Voltarelli, Gerente Geral do CCBB Rio de Janeiro.
Os vídeos dos encontros ficarão disponíveis, na íntegra, no YouTube do Banco do Brasil. O projeto vai até dezembro de 2025 e os encontros presenciais são realizados na segunda quarta-feira de cada mês. Entre os próximos autores confirmados está Luiz Antonio Simas e Monja Coen e uma sessão extra, em novembro, sobre os 500 anos de Camões.
O Clube de Leitura CCBB faz parte do calendário oficial do ano do Rio Capital Mundial do Livro. ■