O Prémio Oceanos distinguiu este ano as obras “Longarinas”, da poeta alagoana Ana Maria Vasconcelos, e “Ressuscitar mamutes”, da escritora paulista Silvana Tavano, vencedoras, respetivamente, nas categorias de poesia e prosa, numa edição cujas distinções do prémio ficaram integralmente no Brasil.
O anúncio dos vencedores por parte da organização foi feito durante uma cerimónia realizada na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo – instituição que celebra o seu centenário – na noite de terça-feira, 9 de dezembro, já madrugada de quarta-feira na Europa.
“Longarinas”, quarto livro de Ana Maria Vasconcelos, foi editado pela 7Letras, enquanto “Ressuscitar mamutes”, segundo romance de Silvana Tavano, saiu pela chancela Autêntica Contemporânea.
Antes da divulgação dos vencedores, os dez finalistas foram homenageados com uma apresentação artística dirigida pelo escritor, compositor e cantor Luca Argel, que criou uma melodia específica para cada uma das obras finalistas.
No palco, Luca Argel declarou nunca ter feito algo assim, “um desafio incrível, como mergulhar num oceano, ler os dez livros e encontrar as melodias dentro de cada um”.
As homenagens aos finalistas contaram também com a participação da cantora e compositora Iara Rennó, que cantou “Elástica”, uma canção criada pela própria sobre um poema de Mário de Andrade, figura-chave do Modernismo no Brasil, e da percussionista Victória dos Santos.
A cerimónia ficou ainda marcada por uma intervenção do escritor e ativista indígena Daniel Munduruku, que lembrou a importância de se conhecer a literatura indígena do Brasil.
“É necessário para que a sociedade brasileira enxergue a si mesma pelo convexo do espelho e possa, assim, perceber o quanto tem perdido ao deixar tão ricos olhares fora da construção de uma identidade que se faz da nossa ancestralidade”, afirmou, sob a ovação da plateia.
De igual modo, o evento contou com a presença de Rodrigo Massi, diretor da biblioteca, a quem coube abrir a noite, e com a coordenadora do prémio e diretora da Oceanos Cultura, Selma Caetano, que deu as boas-vindas ao público e celebrou o centenário daquela instituição, lembrando as gerações de escritores, músicos e artistas, de várias nacionalidades, herdeiras de Mário de Andrade.
Os finalistas portugueses foram apresentados pela curadora do Oceanos por Portugal, Isabel Lucas, os africanos ficaram a cargo da professora da Universidade de São Paulo Rita Chaves, especialista em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, e os brasileiros foram enunciados por Manuel da Costa Pinto.
Na categoria de poesia, chegaram à final “Lições da Miragem”, de Ricardo Gil Soeiro, “As Coisas do Morto”, de Francisco Guita Jr., “Coram Populo – Poesia Reunida Livro 2”, de Maria do Carmo Ferreira, “Longarinas”, de Ana Maria Vasconcelos, e “O Pito do Pango & Outros Poemas”, de Fabiano Calixto.
Na prosa, os finalistas foram “A Cegueira do Rio”, de Mia Couto, “As Melhoras da Morte”, de Rui Cardoso Martins, “Mestre dos Batuques”, de José Eduardo Agualusa, “Vermelho Delicado”, de Teresa Veiga, e o vencedor “Ressuscitar mamutes”, de Silvana Tavano.
Os dez livros finalistas foram selecionados entre 3.142 obras concorrentes, submetidas por 488 editoras do Brasil, de Portugal e dos países africanos de língua portuguesa.
Segundo o curador brasileiro do prémio, Manuel da Costa Pinto, “Longarinas privilegia a forma curta para tratar da passagem do tempo e da permanência; uma poesia que se organiza em torno do mínimo e da observação”.
Por sua vez, Manuel da Costa Pinto destacou “Ressuscitar mamutes” por ser uma obra que mescla os registos do ensaio e da ficção, cruza especulações e experiências científicas com o relato de uma experiência de luto.
“O resultado é uma narrativa que aborda de modo imaginativo e comovente as possibilidades de lidar com o tempo, de fazer uma redenção e uma modificação do passado (e, portanto, do futuro) pela imaginação”, complementou.
Os autores distinguidos receberam um prémio monetário total de 300 mil reais (47,4 mil euros), divididos em 150 mil reais (23,7 mil euros) para cada um dos vencedores.
O Prémio Oceanos, administrado pela Associação Oceanos, em Portugal, e pela Oceanos Cultura, no Brasil, é realizado ao abrigo da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura do Brasil, e conta com o patrocínio do Banco Itaú e da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas de Portugal, com o apoio do Itaú Cultural, do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde e o apoio institucional da CPLP.
No ano passado, os vencedores foram o poeta português Nuno Júdice, com “Uma colheita de silêncios”, e a escritora brasileira Micheliny Verunschk, com o romance “Caminhando com os mortos”. ■





