Castelo Branco recebe apoio de especialistas internacionais no processo de candidatura às Cidades Criativas da UNESCO

Consultor brasileiro, com expertise nas candidaturas à UNESCO, comentou o que é necessário para que o município português obtenha sucesso

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Bordados de Castelo Branco estão no centro das discussões
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A cidade de Castelo Branco, localizada na região Centro de Portugal, vai entregar em junho um dossier à UNESCO no âmbito da sua candidatura à Cidade Criativa do Artesanato e das Artes Populares, por meio dos “Bordados Tradicionais”.

Com o intuito de fortalecer esta iniciativa, que pretende reforçar o “posicionamento de Castelo Branco no mapa mundo no que diz respeito ao bordado da região e às potencialidades de desenvolvimento económico do concelho através da criatividade”, as autoridades governamentais locais realizaram o primeiro Encontro Internacional de Cidades Criativas, entre os dias 12 e 15 de abril, nas instalações do Centro Cultural de Castelo Branco, que reuniu dezenas de participantes, incluindo especialistas e responsáveis de diversas cidades do mundo, como Brasil, Espanha e Cabo Verde.

Helder Henriques, vice-presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco e coordenador da candidatura, explicou que o que está em jogo, neste momento, é apostar nos bordados de Castelo Branco como uma ferramenta cultural e potenciadora da economia social na região.

“Entendemos que a cultura pode ser um incentivo, em territórios nomeados de baixa densidade populacional, e que esses territórios continuem distintivos do ponto de vista identitário”, comentou este responsável, que sublinhou o que distingue os bordados de Castelo Branco de outras artes e trabalhos manuais.

“Este é um bordado que é aplicado sobre linho, é um tecido sobre linho. Tem um conjunto de dimensões muito associadas ao próprio bordado. E, isso, vem desde o próprio casulo do bicho que produz a seda, até à manufatura das peças artísticas do bordado de Castelo Branco, das nossas bordadeiras. E costumo dizer que, por detrás de cada fio que apreciamos no linho, há uma história de uma bordadeira, há uma conversa. Portanto, há um património, um bem material que tem que ser preservado e conservado. E, por isso, temos que valorizar, dar a dimensão necessária para este bem material”, afirmou Helder Henriques.

Reconhecimento internacional e apoio do Brasil

Esta intenção de Castelo Branco ganhou o apoio de nomes de vulto de Portugal, como o embaixador Luís Castro Mendes, antigo cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro e ministro da Cultura de Portugal; Volodymyr KOZLOV, embaixador da Ucrânia em Portugal; Sofia Lourenço, presidente da Associação “Mais Lusofonia”; Eduardo Barroso Neto, consultor na área de “Economia Criativa”, em atuação atualmente na prefeitura de João Pessoa, Brasil; entre outros.

À nossa reportagem, Eduardo Barroso Neto, que, além de consultor na área de “Economia Criativa e Design”, é especialista em processos a submeter à UNESCO no âmbito das Cidades Criativas, disse que o município português tem condições de receber uma resposta positiva por parte da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

“Acho que o mais importante que a gente viu é a consistência, a importância do bordado de Castelo Branco, uma tradição de quase três séculos e que permanece. Não é uma atividade que está circunscrita a museus. É uma atividade viva, tem pessoas que vivem disso e é um ativo turístico importante, principalmente na economia da experiência”, destacou Eduardo Barroso Neto, que mencionou que “um dos objetivos da rede da UNESCO é a partilha das melhores práticas”, o que, ainda segundo este responsável, “já está em processo em Castelo Branco, através da proposta de se criar um acordo de cooperação entre as cidades que visitaram este município”.

“Durante o encontro em Castelo Branco, propostas e ideias surgiram. Ganhar o selo da UNESCO não é simplesmente ganhar um selo de distinção turística. É mais do que isso! É o compromisso da cidade em cooperar com as demais e promover o desenvolvimento sustentável, onde a cultura fica no centro deste desenvolvimento. (…) O que torna esses territórios tão interessantes é a preservação das identidades culturais, mas, também, a diversidade. Cidades que tenham uma forte identidade, mas que são recetivas à entrada de outras culturas, mas, sobretudo, esse entrelaçamento que faz parte dessa dinâmica e vitalidade cultural. Isto é o mais importante”, assinalou este especialista.

Por fim, este consultor avaliou o que um território necessita para ser reconhecido pela Unesco.

“Acho que, em primeiro lugar, precisa levantar a sua vitalidade cultural, os seus ativos culturais. Aquilo que uma localidade fez de mais relevante nos últimos anos, as expressões mais vivas e autênticas dos territórios. Mas, mais do que isso, um projeto de futuro, um projeto que seja inovador, impactante e partilhável com as demais cidades da rede mundial da UNESCO. É por aí que as coisas acontecem. Esta visão de futuro partilhada com a população, construída de forma democrática e participativa”, atestou Eduardo Barroso Neto.

O apoio deste e de outros especialistas pode auxiliar Castelo Branco a conquistar este galardão cultural e integrar a lista de Cidades Criativas da UNESCO.

“Este tem sido um processo muito construtivo. Temos construído um caminho de muita proximidade com as instituições. E sentimos que estamos num bom caminho, que estamos a produzir isso de acordo com as nossas expetativas. E, nalguns casos, surpreendem as expetativas. Mas não é isso propriamente que nos motiva. Motiva-nos a valorização do bordado de Castelo Branco. Entendemos que o bordado do nosso município é um produto distinto da nossa terra e, por isso, temos que o valorizar. Mas, também, o saber fazer, que é ancestral e, por isso, temos mais obrigação de levar Castelo Branco mais longe. Por isso, Castelo Branco pode ser a nossa bandeira”, finalizou Helder Henriques. ■

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Como bordadeira que sou há mais de 50 anos, a trabalhar por conta própria desde os meus 22 anos, hoje com 66 anos, dei trabalho e ensinei muitas meninas. Ao contrário das bordadeiras do Centro de Interpretação, que dizem que trabalham nesta área , desde os 10 anos, na Segurança Social não existem contribuições de nenhuma delas na área do bordado de Castelo Branco. Eu tenho um curriculo, fiz feiras, fiz formação no Museu Francisco tavares proença Junior, desde 1999 que dou formação, estudei até ao 10° ano.
    Só tenho a dizer que não devo nada à camara em relação ao bordado de Castelo Branco, o bordado só é impotante e contunua a ter valor para o Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco.
    Nós os artesão, continuamos esquecidos,
    As bordadeiras continuam a não contar com ajudas.
    Precisamos para todos os artesãos, um espaço onde possamos vender os nossos trabalhos.
    Desde 2014 que eu vendia no Jardim do Paço,
    onde vão todos os turistas que vêm a Castelo Branco umas pecas pequenas, em cortiça com bordado de Castelo Branco, presépios, em vários tamanhos, S. Antonios, tudo isto também com bordado de Castelo Branco, e só deixavam vender porque no Centro de Interpretação não fazem.
    O ano passado impediram me de continuar a vender, porque iam passar a expor lá os bordados do Centro de Interpretação, isto foi uma das vantagens de terem aderido às cidades criativasda UNESCO, em vez de ajudarem, tiraram me esta vantagem de poder comercializar o meu trabalho, tudo o que apresentaram em relação a todas as bordadeiras, foi falso, vieram visitar nos, entrevistaram nos, tiraram fotos, mas não disseram a que se destinavam, por isso agora, não aceito ninguém na minha casa a não ser por motivos de trabalho.
    Cumprimentos

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