
Portugal estima entre 1,7% e 6% da população a viver com fibromialgia. Estudos como o EpiReumaPt (2023) indicam uma prevalência de 1,7%, com variação entre 1,3% e 2,1%. Outras estimativas, associadas a declarações de organizações de doentes, apontam para até 400 mil indivíduos afetados, aproximadamente 3,9% da população total.
A fibromialgia, síndrome de dor crónica reconhecida pela Organização Mundial de Saúde desde 1992, terá sido responsável, de acordo com fontes da área da saúde, por afetar entre 1,7% e 3,6% da população portuguesa e teve consequências que foram além da saúde. O impacto social e laboral da doença foi significativo, sobretudo porque a maioria dos pacientes eram mulheres em idade ativa, muitas vezes afastadas do mercado de trabalho devido às crises de dor.
O absentismo foi frequente. Episódios podiam durar dias ou semanas, inviabilizando a assiduidade. Muitos doentes acabaram afastados prematuramente das suas funções ou enfrentaram processos de reforma antecipada. A situação foi agravada pelo descrédito. Por se tratar de uma condição “invisível”, a fibromialgia ainda foi alvo de preconceito no ambiente profissional e de questionamentos sobre a legitimidade dos sintomas.
“Estímulos tornaram-se dolorosos e persistentes para os pacientes”
As consequências estenderam-se para além do espaço laboral. Houve perda de rendimento familiar, sobrecarga para cuidadores e maior vulnerabilidade socioeconómica. Estudos indicaram ainda que o diagnóstico foi moroso, muitas vezes baseado na exclusão de outras patologias, e que a formação médica continuou insuficiente para lidar com a síndrome.
A doença alterou a perceção de dor no cérebro, isto é, como os estímulos foram sentidos e processados. Estímulos toleráveis para a maioria das pessoas tornaram-se dolorosos e persistentes para os pacientes. Além da dor difusa, foram comuns fadiga extrema, sono não reparador e dificuldades cognitivas, fatores que reduziram ainda mais a produtividade e a inserção no mercado de trabalho.
Segundo o presidente e fundador da Academia Portuguesa de Fibromialgia, Síndrome da Sensibilidade Central e Dor Crónica, Prof. Dr. José Luis Arranz Gil, a compreensão social e política, relativamente aos doentes que sofrem com fibromialgia, é sempre urgente.
“Uma das prioridades é chamar a atenção das entidades patronais, da Segurança Social e do sistema de saúde português para a necessidade de políticas públicas que assegurem adaptação de funções, flexibilidade laboral e o acesso a apoios adequados”, afirmou este especialista, que lidera também, no Interior de Portugal, a Unidade de Fibromialgia e Síndrome de Sensibilidade Central e Dor Crónica, uma valência única em Portugal dedicada exclusivamente ao tratamento da doença, desde o Centro Clínico da Mutualista da Covilhã.
“Compreender o impacto social e laboral da fibromialgia foi essencial para superar preconceitos. Esta doença não deve ser vista apenas como um desafio médico, mas como uma questão de estudo, compreensão e dignidade”, finalizou o presidente da Academia Portuguesa de Fibromialgia. ■