
Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares tem 70 anos de idade, é natural de Sintra. Licenciou-se em Estudos Anglo-Americanos pela Universidade de Lisboa, é professora do 2° Ciclo, aposentada, com 46 anos de serviço, 40 dos quais no Ensino do Português no Estrangeiro na Alemanha e na Suíça.
Atualmente, é secretária-geral do Sindicato dos Professores nas Comunidades Lusíadas (SPCL) e integra a lista de candidatura a deputada à Assembleia da República portuguesa pelo Bloco de Esquerda pelo círculo da Europa.
Em entrevista à nossa reportagem, esta candidata explicou as suas motivações caso seja eleita.
O que está a impulsionar a sua candidatura?
Conseguir melhorar as condições de vida dos portugueses no estrangeiro. Mais justiça, mais direitos e melhor vida.
Que políticas são necessárias para a comunidade portuguesa emigrada?
Melhores serviços consulares, rede consular alargada, ensino da língua e cultura portuguesas gratuito e de qualidade, assim como os manuais e eventual certificação. Criação de programas de apoio a projetos culturais e sociais. Revogação das atuais disposições do RNU, recuperando o direito aos serviços do médico de família para os portugueses que se desloquem a Portugal. Melhor representação no Parlamento dos portugueses no estrangeiro, aumentando o número de deputados da emigração. Os atuais quatro, dois para o círculo da Europa e dois fora da Europa são totamente insuficientes, sendo abertamente discriminatória esta disposição pois qualquer círculo eleitoral em Portugal com número inferior de eleitores tem representação superior. Revisão das leis eleitorais e adoção de medidas concretas contra a anulação de grande percentagem de votos em todas as eleições.
Que linhas pretende seguir em relação às comunidades portuguesas caso seja eleita? E quais são os seus objetivos centrais?
Alargamento da rede de cursos de Língua e Cultura Portuguesas, mais professores e um ensino de qualidade, na vertente língua de origem, materna ou identitária, e não na vertente Português Língua Estrangeira como tem sido feito nos últimos 12 anos, facto que, aliado ao pagamento de taxa ou propina exigida aos alunos portugueses, levou à perca de mais de 18 mil alunos e a um afastamento progressivo do país de origem. Sem a nossa língua e cultura deixamos de ser portugueses. Mais justiça social para os portugueses no estrangeiro, que continuam a não ser iguais àqueles que residem em território nacional e mais apoio tanto àqueles que vêm para o estrangeiro como para os que decidem regressar a Portugal. Melhoria e mais acessibilidade dos serviços consulares.
O que pode ser feito no sentido de se valorizar o trabalho consular português no estrangeiro?
É urgente redefinir as chamadas áreas consulares. Áreas consulares como a de Estugarda, com dimensão superior à de Portugal Continental, ou a de Paris, que obrigam os portugueses a perderem um dia inteiro de trabalho quando têm de se deslocar ao consulado devido às distâncias a percorrer é inaceitável. É também necessário melhorar as condições contratuais dos funcionários e aumentar o seu número.
Qual a importância do movimento associativo português nos países de acolhimento?
O movimento associativo é indispensável para manter vivas no estrangeiro a nossa língua, cultura e tradições, além de terem também um papel muito importante no que diz respeito a manter a união dos portugueses numa região ou localidade e ajudando também os recém-chegados na adaptação ao novo meio.
O ensino da língua portuguesa deve sofrer alterações?
Absolutamente. O ensino da Língua e Cultura Portuguesesas a crianças e jovens portugueses e lusodescendentes em idade de escolaridade obrigatória deve estar sob tutela do Ministério da Educação e não do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, entidade que tem apenas interesse na vertente de Português Língua Estrangeira e na obtenção de lucro económico mediante venda de manuais e certificados. Com a exigência da atrás citada propina o Instituto lucrou cerca de 18 milhões de euros em 12 anos, tendo simultaneamente reduzido o número de professores a metade, atualmente apenas cerca de 334 a nível mundial, quando em 2011 existiam quase 600 docentes em exercício. A perda do número de alunos, devido ao pagamento, que felizmente termina no presente ano letivo, após uma longa luta sempre apoiada pelo Bloco, cifrou-se em mais de 18 mil. Estas condições são sintomáticas de uma tutela destituída de qulquer tipo de interesse exceto o monetário e também da indiferença e falta de vontade política de três governos constitucionais que permitiram a destruição, ainda que parcial, de um sistema muito prezado pelos portugueses nas Comunidades.
O que a comunidade portuguesa deve esperar das próximas eleições legislativas?
Mais justiça, mais direitos, mais igualdade com os portugueses em território nacional, uma vida melhor como portugueses de pleno direito.
Por fim, que mensagem deixa para os eleitores?
Portuguesas e portugueses no estrangeiro, querem uma vida melhor, mais reconhecimento pelos políticos portugueses, mais representatividade, melhores serviços sociais? Votem Bloco de Esquerda! Lutamos pelos vossos direitos! ■