Deolinda Rosa Machado Vieira Estêvão tem 54 anos. É de Salamonde, Vieira do Minho, Braga, Portugal. É professora, licenciada em História, diretora do Ecomuseu da ilha do Corvo e candidata-se a deputada à Assembleia da República pela emigração pelo círculo eleitoral de Fora da Europa pelo Partido Popular Monárquico (PPM).
Em entrevista à nossa reportagem, esta candidata falou sobre os seus projetos, caso seja eleita.
O que está a impulsionar a sua candidatura?
Pertenço a uma família de emigrantes. A maior parte da minha família emigrou. Tenho família em França, nos Estados Unidos, na Suíça e no Brasil. Esta é uma área que me diz muito. Sempre fiquei indignada pela falta de apoio que é prestado aos emigrantes e às nossas comunidades. Um estudo do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), de 2022, revelou que mais de 65% dos emigrantes reportam dificuldades em aceder aos serviços consulares, sendo as reclamações mais comuns o tempo de espera para marcações (até 6 meses em alguns casos), ausência de respostas a e-mails e chamadas, e serviços informatizados ineficientes. No que toca a cobertura consular, faltam consulados em zonas com forte concentração de portugueses. Temos de mudar muita coisa. Trabalhar muito para alterar tudo isto.
Que políticas são necessárias para a comunidade portuguesa emigrada?
Propostas claras e eficazes: expansão da rede consular, melhorar drasticamente o serviço prestado pelas embaixadas e consulados, preparar apoio jurídico gratuito às comunidades, implementar programas de turismo social para reforçar laços culturais, mobilidade académica para jovens lusodescendentes. Apoiar as despesas com a deslocação de famílias inteiras a Portugal. As passagens aéreas estão pela hora da morte. Os nossos idosos no estrangeiro estão a ficar desprotegidos, vamos criar uma rede de apoio eficaz. Portugal deve valorizar cada emigrante como um ativo estratégico!
Que linhas pretende seguir em relação às comunidades portuguesas caso seja eleita? E quais são os seus objetivos centrais?
Veja que, atualmente, estima-se que existam entre 5 a 6 milhões de portugueses e lusodescendentes espalhados pelo mundo, o que equivale a cerca de metade da população residente em Portugal. As comunidades mais expressivas encontram-se em França (cerca de 1,2 milhões), Estados Unidos (cerca de 1,4 milhões considerando lusodescendentes), Canadá (cerca de 482 mil), Suíça (220 mil), Luxemburgo (120 mil), Venezuela (200 mil), África do Sul (450 mil) e Brasil (cerca de 300 mil). Estas populações são cruciais para o nosso futuro. Representam um reservatório de portugalidade no mundo. Nós, em Portugal, estamos em franco declínio. Portugal está entre os países com as taxas de natalidade mais baixas do mundo. De acordo com estimativas de 2024 da CIA World Factbook, Portugal apresenta uma taxa de natalidade de 8,0 nascimentos por 1.000 habitantes, ocupando a 214ª posição entre 228 países e territórios analisados. Estamos a desaparecer como nação. Para mim, as comunidades portuguesas são centrais. São o futuro do nosso país. Quero colocar o apoio às comunidades no centro das políticas nacionais.
O que pode ser feito no sentido de se valorizar o trabalho consular português no estrangeiro?
Humanizar e modernizar! Propostas concretas: reforçar equipas, criar consulados móveis e melhorar atendimento digital e presencial. Não podemos aceitar meses de espera, processos abandonados e falta de resposta. A Grécia e o Canadá já modernizaram redes consulares. Simplificar processos de obtenção da nacionalidade para os lusodescendentes. Precisamos de portugueses. Portugal deve ser ágil, digno e eficiente para todos.
Qual a importância do movimento associativo português nos países de acolhimento?
É a alma das comunidades! Propomos um grande aumento do apoio financeiro direto para associações culturais e programas de formação de dirigentes em Portugal. As Casas dos Açores no Brasil constituem um exemplo vivo de como manter a cultura e a pertença. Apoiar o associativismo é investir na nossa presença forte no mundo.
O ensino da língua portuguesa deve sofrer alterações?
Defendemos um ensino dinâmico, adaptado às novas gerações. Propomos programas flexíveis para jovens lusodescendentes, ensino online gratuito e apoio às escolas comunitárias. A língua portuguesa tem de ser património vivo nas comunidades, como fazem a Irlanda e a Itália com as suas línguas de herança.
O que a comunidade portuguesa deve esperar das próximas eleições legislativas?
Uma escolha entre a continuidade do abandono ou a mudança urgente! O que é que melhorou, nos últimos anos, no que diz respeito ao apoio às nossas comunidades? No atendimento consular? No preço exorbitante das viagens? Na floresta burocrática que os nossos emigrantes enfrentam nas questões legais em Portugal?. Nada! Não mudou nada! Temos de mudar e eu tenho a energia e a vontade para fazer mudar as coisas.
Por fim, que mensagem deixa para os eleitores?
Esta eleição é decisiva! Peço o vosso apoio para mudar o presente e projetar um futuro digno para todos os portugueses no estrangeiro. Portugal deve ser justo, respeitador e presente. Temos propostas sólidas, energia e compromisso. Vamos, juntos, devolver às nossas comunidades o orgulho que merecem! As nossas comunidades são a garantia que vamos sobreviver ao inverno demográfico que está a destruir o nosso país e às flutuações geopolíticas da atualidade. Portugal precisa de bons portugueses e eles estão aí, nas nossas comunidades. ■