
Lisboa acolhe, dia 29 de setembro, na Residência Oficial do embaixador do Brasil em Portugal, o lançamento do livro “José Bonifácio de Andrada – Patriarca da Independência do Brasil e Fundador da Nacionalidade”, de José Theodoro Mascarenhas Menck, editado em 2025 pela Tinta-da-China. A obra de 328 páginas é apresentada como convite à leitura profunda de uma figura central da história brasileira, cujo legado vai além da proclamação política da Independência: naturalista, estadista, iluminista, construtor de ciência e de Estado.
José Theodoro Mascarenhas Menck, advogado e Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados do Brasil; mestre e doutor em História pela Universidade de Brasília; pós-graduado em Direito Romano em Roma; membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, assume, nesta obra, a tarefa de compor um retrato multifacetado de José Bonifácio de Andrada e Silva.
Menck recorda que, desde 2008, “fui o responsável técnico pelos festejos do bicentenário da independência do Brasil no âmbito interno da Câmara dos Deputados. Nesse contexto, desde 2008, quando do bicentenário da vinda da Família Real para o Brasil, a Câmara dos Deputados fez, internamente, comemorações do evento que levaram à completa independência política do Brasil em 1822. A partir de 2017, os festejos tornaram-se anuais. Comemorou-se: em 2017 os 200 anos da chegada de D. Leopoldina ao Brasil e a sua participação no processo da Independência. 2018: 200 anos da Aclamação de D. João VI rei do Reino Unido Portugal, Brasil e Algarves e a construção das bases do Estado Nacional brasileiro por aquele monarca. 2019: os 200 anos da volta de José Bonifácio de Andrada e Silva ao Brasil e a sua importância na emancipação política do Brasil e na manutenção da unidade nacional. 2020: 200 anos da Revolução do Porto, com destaque para a adesão maciça do Reino do Brasil aos ideais liberais revolucionários. 2021: 200 anos das primeiras eleições gerais no Brasil para a eleição de deputados brasileiros para as Cortes de Lisboa. 2022: os 200 anos da proclamação da Independência por D. Pedro I. Em cada ano lançamos um livro referente ao tema do ano”.
Para o autor, o valor central da sua obra reside em iluminar as facetas de José Bonifácio “mais surpreendentes”.
“O aspeto da vida de José Bonifácio mais surpreendente é o facto de ele ter voltado para o Brasil, em 1819, como um aposentado. Até então, toda a sua vida útil havia transcorrido na Europa. Trabalhando para o engrandecimento de Portugal. Ele, inclusive, lutou contra as invasões francesas como Tenente-Coronel, além de diversas outras funções importantes que desempenhou ao longo da sua vida. Inclusive a de fundador dos cursos de Geologia em Coimbra e de Secretário Vitalício da Academia de Ciências de Lisboa”, reforçou José Theodoro Mascarenhas Menck, membro da Academia de Letras de Brasília desde 2024.
Esse retorno, sublinha, “marca uma viragem vital: José Bonifácio emerge como protagonista político quando o Brasil passava de colónia a Reino Unido, e, depois, a um novo Império”.
Qualidades atribuídas por Menck ao personagem histórico incluem “integridade moral, visão clara das ameaças internas e externas, e capacidade de intervir com firmeza para preservar a unidade nacional”.
“José Bonifácio foi chamado Patriarca da Independência ainda em vida, como reconhecimento pela sua curta, porém essencial participação no processo de emancipação política da América Portuguesa sem perder a sua integridade física. José Bonifácio foi o mentor político do processo de independência evitando a todo o custo que o processo descarrilasse para uma guerra civil generalizada e, por conseguinte, que colocasse em risco a unidade política do novo Império”, disse Menck, que destaca ainda a singularidade da visão de José Bonifácio como homem de ciência e político entrelaçados.
“José Bonifácio teve vários papéis ao longo da vida, sabendo exercê-los com mestria. O facto de ter sido um naturalista com mentalidade iluminista significa dizer que para ele a realidade era uma só. Essa divisão, que hoje vemos, entre as ciências e a política não estavam presentes na sua conceção de mundo”, frisou.
Na sua opinião, a importância contemporânea da obra está ligada ao exercício da memória.
“A importância de José Bonifácio está no facto de, caso queiramos entender o mundo em que vivemos, temos de saber como esse nosso presente foi construído. E só saberemos como ele foi construído conhecendo as escolhas, vitórias e derrotas dos nossos antecessores. No caso, a existência do Brasil atual, seus vícios e virtudes, estão intimamente ligados às escolhas dos ‘pais da pátria’, dentre os quais se destaca a figura de José Bonifácio de Andrada e Silva”, comentou.
Historicamente, José Bonifácio é reconhecido como figura chave do processo de independência do Brasil. Cientista naturalista especializado em mineralogia, exilado, tutor do futuro imperador Pedro II, ministro dos Negócios Estrangeiros e do Reino, ideólogo de um Estado centralizado, defensor de reformas sociais que incluíam a abolição do tráfico de escravos e propostas de mudança agrária, entre muitos outros papéis.
O livro de José Theodoro Mascarenhas Menck pretende reposicionar José Bonifácio não apenas como símbolo nacional, mas como ator pragmático, cujas ações tiveram consequências concretas para a estrutura política, social e científica do Brasil. A receção em Lisboa, organizada pela Embaixada do Brasil, pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira e pela editora, será, segundo fontes, oportunidade para dissipar mitos, apresentar fontes e fomentar debate sobre qual o legado de José Bonifácio para o Brasil contemporâneo. ■