A Câmara Municipal de Lagoa, na região portuguesa do Algarve, entregou, no dia 25 de junho, o 5.º Prémio Literário Santos Stockler ao escritor João Morgado pela sua mais recente obra, “Cemitério de Pardais”. A cerimónia decorreu na Biblioteca Municipal da Lagoa, com casa cheia e a presença de diversas entidades e amantes da literatura.
“Cemitério de Pardais” é uma obra de rara intensidade emocional, centrada nas últimas 24 horas de vida de um homem de 88 anos, praticamente cego, mergulhado na solidão e na memória. O romance conduz o leitor por um monólogo interior sobre a perda, o amor, o remorso e a busca por redenção no fim da vida, num mundo que marginaliza os mais velhos em nome da juventude eterna.
Durante o evento, João Morgado emocionou o público ao partilhar a génese íntima do livro e a leitura de excertos particularmente tocantes. Este autor dedicou o livro “ao pai e a um amigo”, revelando que foi escrito durante a doença do seu pai.
“Este livro é diferente de tudo quanto escrevi. É uma catarse. Um exercício de purgação da dor, da raiva, do medo. A literatura, nesses momentos, ilumina por dentro”, explicou Morgado.
“O Prémio Santos Stockler e o município da Lagoa ficam muito honrados por ter um participante como o João Morgado, tanto pelo seu currículo, mas, sobretudo, pela qualidade da obra que escreveu e que teve uma decisão unânime do júri”, mencionou Luis Encarnação, presidente da Câmara Municipal da Lagoa.
“A obra trata de um tema muito comovente, muito pessoal, muito íntimo, mas um tema que também é muito presente na nossa sociedade e que é comum a todo ser vivo, a todo o homem, a toda a mulher, porque é para lá que nós caminhamos, para a velhice e para o final da vida e para todos os dramas que isso traz a nós próprios e também a quem com eles vive, aos amigos e aos familiares. Eu acho que a obra “O Cemitério de Pardais” teve essa particularidade de nos tocar no coração com um tema que está presente na vida”, atestou o autarca.
Por seu turno, Adriana Nogueira, professora associada na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Algarve e presidente do júri, sublinhou a surpresa da descoberta do vencedor.
“Agora sabemos que o autor vencedor é um best-seller. Tenho que lhe dizer que nós tivemos muitas obras para ler, algumas com muita qualidade, mas esta obra destacou-se e foi unânime. Avaliamos que o livro tinha consistência, solidez. Não tínhamos noção nenhuma do autor, pois é um concurso anónimo. Eu conheço a obra do João Morgado, mas na parte histórica. E eu nunca diria que este livro traz o seu estilo. Ele conseguiu entrar na personagem, transmitir a questão da doença, da velhice, da solidão, o desastre, a tragédia que acontece na vida das pessoas. É de facto um livro muito bem escrito”, disse Adriana Nogueira, que realçou que João Morgado “não se perdeu numa narrativa simples, mas complexa, porque ela é simples para quem lê, mas percebe-se que é complexa para quem escreve. Foi uma avaliação unânime”.
“Ficámos contentes quando vimos quem era o vencedor. (…) É importante também para a Lagoa ter um autor deste calibre a vencer o Prémio”, afirmou.
O evento contou ainda com a intervenção do editor António Venda, que elogiou a cadência e o formato do trabalho do autor.
Currículo internacional
Com uma carreira literária já reconhecida, este é o décimo prémio literário que recebe. João Morgado é autor de romances históricos, contos, poesia e literatura infantojuvenil, estando traduzido em várias línguas. O seu romance Índias, sobre a viagem de Vasco da Gama, teve recente edição nos EUA sob o título Dust in the Gale. Foi operário, jornalista, empreendedor, chefe de gabinete de três autarcas e hoje lidera várias associações cívicas e económicas.
Entre os seus prémios literários destacam-se Prémio Nacional de Conto Manuel da Fonseca 2020; Prémio Literário Ferreira de Castro 2019; Prémio “Medalha do Mérito Literário da Ordem Internacional do Mérito do Descobridor do Brasil, Pedro Álvares Cabral”, 2017; Prémio Literário António Gaspar Serrano, 2016; Prémio Nacional de Literatura LIONS 2015; Prémio Literário de Poesia Arandis – Manuel Neto dos Santos, 2015; Prémio Literário Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’ Escritas, 2015; Prémio Literário António Alçada Baptista 2014; Prémio Literário Vergílio Ferreira 2012. ■
