Minas Gerais: Nova Casa dos Açores com o olhar voltado para as relações económicas com o arquipélago

Entidade será formalizada dia 26 de julho com a presença de José Andrade, diretor regional das Comunidades do Governo dos Açores, e do Secretário Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades dos Açores, Paulo Estêvão; no âmbito das celebrações, decorrerá o “VIII Encontro Açores Brasil”

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José Andrade, diretor regional das Comunidades do Governo dos Açores, e Claudio Motta, presidente da Casa dos Açores de Minas Gerais. Foto: divulgação
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No próximo dia 26 de julho, mais um estado brasileiro vai celebrar a abertura de um novo espaço dedicado à cultura açoriana no país. O lançamento oficial da entidade acontecerá em solenidade no Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. No dia seguinte, 27, será realizado o VIII Encontro Açores Brasil, reunindo em Belo Horizonte os presidentes das oito Casas dos Açores do Brasil. A Casa dos Açores de Minas Gerais terá a sua sede na capital mineira, Belo Horizonte, coração cultural e económico do Estado. O espaço contará com uma galeria cultural, sala de conferências, biblioteca temática, além de um centro de apoio a projetos sociais e empresariais. Já estão previstas, segundo os seus responsáveis, exposições, ciclos de palestras, festivais gastronómicos e semanas culturais dedicadas aos Açores.

Segundo apurámos, a nova casa açoriana em Minas será estruturada sobre quatro pilares principais: cultura e memória, com ações de preservação da história e tradições açorianas; arte e educação, por meio de exposições, oficinas, cursos e intercâmbios culturais; projetos sociais, voltados à inclusão e fortalecimento das comunidades locais, inspirados nos valores de solidariedade da diáspora açoriana; e promoção empresarial, criando pontes para o desenvolvimento de negócios entre Minas Gerais e os Açores, com apoio a empreendedores, eventos e missões económicas.

“Será um espaço vivo, pulsante, onde a história e o presente dialogam constantemente”, é o que garante Claudio Luciano Valença Motta, 67 anos, cidadão luso-brasileiro, que será o presidente da entidade. Ele atua como advogado e empresário tanto no Brasil como Portugal, reside em Belo Horizonte e também em território português. É ainda jornalista e escritor, com publicações voltadas principalmente para temas relacionados às relações entre Brasil e Portugal, ocupando, atualmente, cargos como diretor e presidente do Conselho Empresarial de Relações Internacionais da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas), diretor regional da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (FUNCEX) e diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (ABRAJET Nacional), sendo também vice-presidente e presidente do Conselho Superior da ABRAJET em Minas Gerais.

Claudio explica que a sua ligação a Portugal hoje é “tanto afetiva quanto institucional”. Especificamente em relação aos Açores, o “vínculo foi se aprofundando ao longo dos anos, especialmente com as pesquisas genealógicas e históricas que realizei em Minas Gerais”.

“Tenho promovido a cultura açoriana e portuguesa através de eventos, missões empresariais, publicações jornalísticas e ações voltadas ao fortalecimento dos laços culturais e económicos entre os dois países, sempre com ênfase na valorização da identidade luso-brasileira”, disse este responsável, que revelou o que o levou a “visualizar” a criação de uma Casa dos Açores no estado mineiro.

“A ideia nasceu da constatação, a partir de pesquisas aprofundadas, da presença histórica e significativa dos açorianos em Minas Gerais desde 1723 — um dado muitas vezes negligenciado ou desconhecido. Ao reunir informações documentais e genealógicas, percebi a necessidade de criar um espaço institucional que pudesse resgatar, preservar e promover essa herança. A Casa dos Açores de Minas Gerais nasce, assim, do compromisso com a memória e com o futuro, como um elo cultural e estratégico entre os Açores e Minas Gerais”, confirmou Claudio, que, nesse processo, destaca ter havido “descobertas surpreendentes e emocionantes”, como quando constatou registos documentais que comprovam a chegada de famílias açorianas em diversas regiões mineiras desde o século XVIII.

“Esses colonos influenciaram não apenas a demografia, mas também aspetos culturais, religiosos e até linguísticos da sociedade mineira. Identifiquei sobrenomes, trajetórias e comunidades com raízes diretas nas ilhas, o que reforça o papel dos Açores na formação do povo mineiro”, adiantou, sublinhando ter conseguido estabelecer elos que nem mesmo o Governo dos Açores tinha conhecimento.

“Parte significativa das informações foi fruto de investigações nos cartórios (notários), arquivos e igrejas de Minas Gerais, muitas vezes em documentos manuscritos e pouco acessíveis. Descobri, por exemplo, registos de batismo e casamento de açorianos em vilas mineiras do século XVIII, que até então não constavam nos bancos de dados institucionais dos Açores. Esses dados foram sistematizados e serão compartilhados em publicações e exposições promovidas pela Casa, ampliando a compreensão do fluxo migratório luso-brasileiro”, confirmou Claudio.

Inauguração reunirá nomes de vulto

Em julho, quando a Casa dos Açores de Minas Gerais for inaugurada, os organizadores do evento esperam contar com “presenças ilustres”, como José Andrade, Secretário Regional das Comunidades dos Açores, e o Secretário Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades do Governo dos Açores, Paulo Estêvão, além de representantes da comunidade portuguesa, bem como os presidentes das Casas dos Açores do Brasil e autoridades estaduais e municipais de Minas Gerais, lideranças empresariais e consulares e muitas outras.

“A presença dessas personalidades reforça a importância simbólica e diplomática da Casa, e representa para mim a concretização de um sonho coletivo, que valoriza as nossas raízes e projeta novas possibilidades de cooperação”, afiançou Claudio.

Em declarações à nossa reportagem, José Andrade, diretor regional das Comunidades do Governo dos Açores, avaliou que “a criação da Casa dos Açores de Minas Gerais é importante por duas razões. Desde logo, porque reconhece e valoriza o contributo dos açorianos para o povoamento e desenvolvimento deste importante Estado brasileiro desde há mais de 300 anos. E também porque alarga e reforça a rede brasileira de Casas dos Açores, que começou no Rio de Janeiro (1952) e prosseguiu em São Paulo (1980), Bahia (1980), Santa Catarina (1999), Rio Grande do Sul (2003), Maranhão (2019) e Espírito Santo (2022)”.

“raízes no passado, condições no presente e razões para o futuro”

Este diretor regional das Comunidades sublinha que a sua presença no lançamento oficial da Casa dos Açores de Minas Gerais “significa um ponto de chegada e, sobretudo, um ponto de partida”, já que “chega ao fim um processo iniciado em 2024, de incentivo e acompanhamento da criação de uma associação promotora das relações estratégicas entre o Estado de Minas Gerais e a Região Autónoma dos Açores, que nasceu com a visita do Dr. Cláudio Motta a Ponta Delgada, em maio, e se consolidou com a minha deslocação a Belo Horizonte, em setembro”.

“Ao mesmo tempo, começa também uma nova era desse relacionamento transatlântico, que tem raízes no passado, condições no presente e razões para o futuro. A Casa dos Açores de Minas Gerais será apoiada pelo Governo dos Açores, como as suas congéneres do Brasil e do mundo, através de um protocolo anual de cooperação financeira, mas também de apoio logístico na sua fase atual de afirmação estadual e internacional: ainda em julho, por ocasião da sua oficialização, promoveremos o VIII Encontro Açores Brasil, em Belo Horizonte, com a participação das demais associações açoriano-brasileiras; e já em outubro, ela participará, como convidada observadora, na assembleia geral do Conselho Mundial das Casas dos Açores, que reunirá este ano na costa leste dos Estados Unidos da América”, disse Andrade, que elucida que “uma marca concreta e consequente da presença açoriana em Minas Gerais ficou para a nossa história comum, há 300 anos, com as chamadas “Três Ilhoas”. As Três Ilhoas foram três irmãs açorianas que emigraram para o Brasil, onde aportaram por volta de 1723, fixando residência em Minas Gerais e tornando-se troncos de antigas, tradicionais e importantes famílias. Elas eram naturais da freguesia de Nossa Senhora das Angústias, na então vila da Horta, na ilha do Faial, no arquipélago dos Açores. Uma era Antónia da Graça, nascida em 1687, que foi para São João del Rei e teve quatro filhos, dando origem, entre outros, aos Junqueiras e aos Meireles. A segunda era Júlia Maria da Caridade, nascida em 1707, que foi também para São João del Rei e aqui teve 14 filhos. Deu origem, entre outros, aos Garcias, Carvalhos, Nogueiras, Vilelas, Monteiros, Reis e Figueiredos. A terceira era Helena Maria de Jesus, nascida em 1710, que se estabeleceu em Prados, teve 15 filhos e deu origem aos Resendes. Aqui está como é comum o sangue que corre nas veias de açorianos e mineiros. Muitas das famílias de Belo Horizonte e, em geral, de Minas Gerais, terão essa origem açoriana de três séculos. É importante fazermos esse resgate – não apenas por causa do passado, mas também, e principalmente, por causa do futuro”.

Atividades e diversidade cultural e empresarial

Claudio Motta pretende que o local tenha uma programação ativa e com conexões locais e também fora de portas.

“Pretendemos atuar como um verdadeiro polo de conexão. Culturalmente, com parcerias institucionais, eventos e intercâmbios escolares e universitários. No campo económico, com apoio a missões empresariais, feiras, promoção de produtos e serviços dos Açores em Minas e vice-versa. Além disso, a Casa servirá como um centro de apoio para empresas e investidores interessados em explorar oportunidades bilaterais, com o suporte das nossas redes institucionais”, referiu este futuro presidente da entidade, que não esconde o orgulho em liderar o projeto.

“A fundação da Casa dos Açores de Minas Gerais é um convite à redescoberta das nossas raízes e ao fortalecimento dos laços que unem o povo açoriano à identidade brasileira. Convido todos — descendentes, estudiosos, simpatizantes — a se engajarem neste projeto. Esta é uma Casa de todos, construída com memória, amor e visão de futuro. Juntos, vamos fazer com que a presença açoriana em Minas Gerais seja celebrada, conhecida e multiplicada”, finalizou Claudio Motta.

“Dinamismo” valida liderança

Sobre a “aposta” em Claudio Motta como presidente da entidade, José Andrade salienta ser uma pessoa “dinâmica”, além de estar “integrado numa família de comprovada ascendência açoriana”.

“Foi ele quem abraçou o desafio de lançar a Casa dos Açores de Minas Gerais e é ele que está congregando, motivando e dinamizando um grupo crescente de açordescendentes e amigos dos Açores em benefício concreto e consequente dessa nossa causa comum. Com ele, vamos vencer essa distância identitária de três séculos que nos separa nos dois lados do Atlântico”, vincou.

Preservar as “caraterísticas históricas”

Hoje, o Brasil conta com sete Casas dos Açores já existentes, que “desempenham por igual uma missão importante e prosseguem cada qual uma vocação decorrente das caraterísticas históricas das comunidades que servem”.

“Por um lado, nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, residem açorianos ainda nascidos nos Açores, pelo que as suas Casas dos Açores estão mais direcionadas para a preservação da identidade em convívios tradicionais. Por outro lado, nos Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Maranhão ou Espírito Santo, os açordescendentes rondam já a décima geração, no âmbito de um povoamento/colonização que remonta a 200, 300 ou 400 anos, pelo que as respetivas Casas dos Açores se encontram aqui mais vocacionadas para o resgate da identidade cultural e a valorização da ancestralidade açoriana”, comentou Andrade.

“A Casa dos Açores de Minas Gerais parece mais apostada em prosseguir um caminho de promoção das relações económicas entre o estado mineiro e as ilhas açorianas. Sem menosprezar as afinidades históricas e as cumplicidades genealógicas, ela quer afirmar-se como parceiro estratégico no âmbito da cooperação bilateral, seja promovendo o destino turístico, seja incentivando o investimento empresarial. Nesta medida, será certamente uma mais-valia para a aproximação de Minas Gerais aos Açores no quadro das relações entre Brasil e Portugal. (…) A afirmação dos Açores no Brasil e no mundo é um trabalho sempre inacabado que convoca a participação de todos em toda a parte. Há ainda outros estados brasileiros com antecedentes históricos e condições estratégicas que justificam igualmente uma presença institucional dos Açores, da mesma forma que existem outras geografias do continente americano e outros países de outros continentes com razões e condições para integrarem a rede mundial das Casas dos Açores. Mas esse desígnio não é uma obrigação imposta dos Açores para as Comunidades; é uma vontade sentida das Comunidades para os Açores”, finalizou o diretor regional das Comunidades do Governo dos Açores. ■

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