
O escritor Guilherme Canever é, sobretudo, um viajante que usa as letras para divulgar culturas que se encontram fora dos padrões turísticos. “Minha proposta é que o leitor possa navegar por outras culturas através daquilo que mais nos aproxima, a Língua Portuguesa”, ressaltou o peregrino nascido em uma família de viajantes e escritores.
A língua portuguesa é falada por mais de 250 milhões de pessoas no mundo. Ela tem suas regras oficializadas; porém, no seu quinto livro lançado recentemente, “Onde se Fala Português — Uma Viagem pelos Países Lusófonos”, o autor propõe uma exploração das formas de expressão da língua por meio da seguinte pergunta:
“Mas como essa língua se expressa, se transforma e se enraíza em realidades tão diversas quanto o interior da Angola, uma ilha de Cabo Verde ou um bairro no Brasil?”.
O autor, formado em Engenharia Florestal, percorreu, além das nações citadas, as demais filiadas à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), como o Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Guiné Equatorial.
A obra, “um projeto identitário em construção”, que propõe mostrar como a língua portuguesa se adapta e resiste em contextos adversos”, foi lançada em 8 de maio pela Pulp, editora especializada em viagens. Além dos países da CPLP, o autor dedicou um capítulo aos territórios de Goa, Macau e Galiza, onde “o português ainda ecoa como herança”.
Canever revela que sua primeira viagem “para um país de língua portuguesa fora do Brasil” o levou a perceber sua transformação pessoal por meio do idioma. Apesar das dificuldades enfrentadas durante as viagens, e de muitas vezes terem que “pegar carona ou navegar entre ilhas numa jangada”, foi a comunicação em português uma ponte entre pessoas aparentemente “desconhecidas”, que o autor define como “primos distantes”.
Foi por meio dessa interação entre ele e os “primos distantes” a percepção de uma língua que fluía “com mais profundidade” e verdade. “Com o tempo, percebi que essa experiência se repetia em cada novo país lusófono que visitava. Era evidente que minha percepção dos lugares era distinta da de outros viajantes que não falavam a língua. O português revelava camadas invisíveis, acessava histórias e afetos que ficariam escondidos atrás de uma barreira linguística. Foi então que compreendi a força que a língua tem em formar comunidades”, relatou Canever.
Por isso, o professor, historiador e escritor Leandro Karnal, que assina a orelha do livro, qualifica-o como “gramática histórica ou de fonologia”, e também como “obra de vida, de aventura e de amor a uma fraternidade específica, a lusófona”.
Outras jornadas do autor transformaram-se em coleções de histórias, e cada uma, ao seu modo, o surpreendeu pela “hospitalidade de gente simples”, pelas “comidas exóticas” e pelas “paisagens deslumbrantes” que encontrou. Cada relato foi marcado com palavras nas páginas de “De Cape Town a Muscat: Uma Aventura pela África”, “De Istambul a Nova Délhi: Uma Aventura pela Rota da Seda” e “Uma Viagem pelos Países que Não Existem e Destinos Invisíveis”. ■