O 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, vai muito além de uma celebração simbólica. Trata-se de um momento essencial para refletirmos sobre o papel dos milhões de portugueses e luso-descendentes espalhados pelo mundo — em especial os que residem no Brasil — na preservação da cultura, no fortalecimento das relações bilaterais e na construção de uma identidade plural, que une tradição e contemporaneidade.
No Brasil, país que acolhe a maior comunidade portuguesa fora da Europa, o associativismo tem desempenhado um papel determinante. São dezenas de casas regionais, clubes, academias culturais e instituições de ensino que mantêm viva a língua portuguesa, os valores partilhados e o orgulho de uma história comum. O trabalho associativo não é apenas social ou recreativo, é, sobretudo, um mecanismo de resistência identitária, um ponto de apoio para novas gerações e uma alavanca de representação cultural e política.
Contudo, é necessário ir além das celebrações. A data deve ser também um momento de reivindicação. O papel das lideranças associativas, e comunitárias, precisa ser mais valorizado e reconhecido institucionalmente. Muitos líderes, que de forma voluntária dedicam décadas ao serviço da comunidade, não têm acesso aos meios de decisão que influenciam diretamente a vida dos portugueses no exterior. Os deputados eleitos pelos círculos da emigração, como representantes formais dessas comunidades, devem estar mais próximos dos cidadãos que os elegeram e apresentar resultados concretos — em temas como acesso à nacionalidade, apoio consular, literacia eleitoral, entre outros.
É fundamental reforçar a participação ativa dos portugueses no Brasil na vida política de Portugal. O voto dos emigrantes influencia decisões que moldam as políticas públicas voltadas para a diáspora. Participar do processo democrático português é uma forma de garantir que os direitos das comunidades sejam respeitados e ampliados, que as suas especificidades sejam ouvidas no Parlamento e que o vínculo com Portugal não se limite a afetos e saudade, mas se traduza também em políticas eficazes e inclusivas.
Neste 10 de junho, celebremos com orgulho o legado de Camões e o papel das comunidades lusas, mas façamos também um exercício de consciência coletiva. Portugal precisa olhar para os seus filhos fora de portas com mais atenção, mais estrutura e mais respeito. E nós, portugueses no Brasil, devemos continuar a honrar as nossas raízes, exigindo ser parte ativa e integrada no presente e no futuro do nosso país. ■
Ígor Lopes
Jornalista, escritor e CEO da Agência Incomparáveis