Embora muito conhecida em Portugal, sobretudo pelas gerações passadas, muitos pensam que ela era Brasileira. No entanto Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu em 1909 na vila de Marco de Canaveses, Portugal.
Era a segunda filha de José Maria Pinto da Cunha (1887-1938) e de Maria Emília Miranda (1886-1971), os dois naturais desta mesma vila.
Como forma de fugir a uma vida humilde e pobre, o seu pai emigrou sozinho, em 1909, para o Brasil e estabeleceu-se no Rio de Janeiro. Em pouco tempo, abriu uma barbearia. Sua mãe juntou-se a ele dois anos depois com as filhas Olinda (1907-1931) e Maria.
No Brasil, nasceram mais quatro crianças: Amaro (1911), Cecília (1913-2011). Ela mesma teve grande sucesso na década de 1930, quando cantou na Rádio do Rio e participou em alguns discos na época. Cecília destacava-se em relação à beleza da voz e a amplitude vocal que era a maior das irmãs. Aurora (1915-2005), igualmente cantora no Brasil e, mais tarde, nos Estados Unidos. Com a idade de 18 anos fez parte do filme “The Three Caballeros”, onde dança com “O Pato Donald” e, por último, o filho Óscar (1916).
Como muitas famílias, os pais de Carmen decidiram sair de um meio de instabilidade e arriscarem a viagem transatlântica para provocarem outras oportunidades. Era uma grande necessidade e, ao mesmo tempo, “coragem” de tudo (do pouco) deixar e partir para o desconhecido.
Muitos foram os que o fizeram. Muitos foram os que o não lamentaram. Sobretudo se considerarmos os “talentos escondidos” nas suas descendências e que não teriam sido detectados (talvez) se não tivessem tentado a aventura!
Maria era chamada Carmen por causa do amor de seu pai pela ópera de Bizet. Paixão pela ópera que influenciou o amor das filhas em cantar e dançar.
No Brasil viviam num bairro bastante pobre, mas foi educada no Convento de Santa Teresa de Lisieux.
A irmã mais velha, Olinda, apanhou a tuberculose e foi enviada para Portugal para tratamento, onde morreu em 1931.
Carmen conseguiu o seu primeiro emprego em uma loja de gravatas aos 14 anos para ajudar a pagar o tratamento médico de sua irmã.
Mais tarde, trabalhou em uma boutique, La Femme Chic, onde aprendeu a fazer chapéus. Rapidamente iniciou o seu pequeno negócio de chapéus (O que seria a sua “marca de fábrica” anos mais tarde nos palcos onde manteria essa vertente de modista através da indumentária).
Começou a cantar em pequenas salas pela cidade. Seus pais, muito católicos, não aprovavam o seu sonho de entrar no show business. Mas, apesar disso, sua mãe apoiou-a. Quando o seu pai descobriu que a sua filha tinha feito um teste para um programa de rádio ficou colérico.
Em pouco tempo ela foi descoberta e conquistou um lugar de cantora numa estação de rádio local conseguindo assim um contracto de gravação com a RCA. Em 1928, ela era uma verdadeira estrela no Brasil. Como acontecia com os cantores da época entrou no mundo do cinema. Fez sua estreia no documentário brasileiro A Voz do Carnaval (1933). Seguido dois anos depois com uma primeira longa-metragem.
No final de 1939 Carmen chegou, com muita fanfúrria da imprensa (Mídias da época), a Nova Iorque.
Ela estava pronta para conquistar o coração dos americanos com seu talento. Foi convidada a cantar e a dançar para o Presidente Franklin D. Roosevelt.
Em 1943, Miranda surgiu em alguns revues musicais na Broadway com grande sucesso distinguindo-se pelos seus números musicais sempre envergada com os chapéus de frutas que se tornaram da praxe.
Em 1945, ela era a mulher mais bem paga dos Estados Unidos. Em Hollywood entrou em 14 filmes entre 1940 e 1953.
Embora tenha sido aclamada como uma artista talentosa, (foi eleita a terceira pessoa mais popular nos Estados Unidos) a sua popularidade diminuiu no final da Segunda Guerra Mundial. Carmen Miranda veio a ressentir-se da imagem estereotipada da “bomba brasileira” que tinha cultivado e tentou libertar-se dela.
Concentrou-se nas aparições em clubes nocturnos e tornou-se uma referência na televisão popularizando a música brasileira a fim de sensibilizar o público para a cultura latina.
Em 1941, foi a primeira estrela latino a ser convidada a deixar as suas mãos e impressões digitais no pátio do Grauman’s Chinese Theatre, e recebeu uma estrela no Passeio da Fama de Hollywood.
A 4 de Agosto de 1955 sofreu um ataque cardíaco durante uma gravação do The Jimmy Durante Show (1954). Foi para casa depois de ir a uma festa. Na manhã seguinte sofreu um segundo ataque que lhe foi fatal. Tinha apenas 46 anos.
Seu corpo foi levado para o Brasil, seu país adoptivo, onde a sua morte foi declarada período de luto nacional. O enterro foi seguido por uma multidão de fãs calculada em cerca de meio milhão de pessoas e acompanhado pelos carrilhões da igreja que executavam o “Adeus batucada”.
Embora nunca tenha retornado a Portugal, Carmem manteve a sua nacionalidade portuguesa.
Um museu foi construído no Rio de Janeiro em sua honra, assim como em Portugal, o Museu Municipal Carmen Miranda, situado em Marco de Canaveses, onde é reconhecida e homenageada com bastante orgulho de todos. ■
Carlos Otero
In “Raio de Luz”
Escritor, ator, cantor lírico e encenador de teatro e de ópera