Opinião: “Carmen Miranda”, por Carlos Otero

“Embora muito conhecida em Portugal, sobretudo pelas gerações passadas, muitos pensam que ela era brasileira”

0
31
Carlos Otero, escritor, ator, cantor lírico e encenador de teatro e de ópera
- Publicidade -

‎Embora muito conhecida em Portugal, sobretudo pelas gerações passadas, muitos pensam que ela era Brasileira. No entanto Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu em 1909 na vila ‎‎de Marco de Canaveses‎, Portugal.

Era a segunda filha de José Maria Pinto da Cunha (1887-1938) e de Maria Emília Miranda (1886-1971), os dois naturais desta mesma vila.

 Como forma de fugir a uma vida humilde e pobre, o seu pai emigrou sozinho, em 1909, para o Brasil e estabeleceu-se no Rio de Janeiro. Em pouco tempo, abriu uma barbearia. Sua mãe juntou-se a ele dois anos depois com as filhas Olinda (1907-1931) e Maria.

 No Brasil, nasceram mais quatro crianças: Amaro (1911), Cecília (1913-2011). Ela mesma teve grande sucesso na década de 1930, quando cantou na Rádio do Rio e participou em alguns discos na época. Cecília destacava-se em relação à beleza da voz e a amplitude vocal que era a maior das irmãs. Aurora (1915-2005), igualmente cantora no Brasil e, mais tarde, nos Estados Unidos. Com a idade de 18 anos fez parte do filme “The Three Caballeros”, onde dança com “O Pato Donald” e, por último, o filho Óscar (1916).‎

Como muitas famílias, os pais de Carmen decidiram sair de um meio de instabilidade e arriscarem a viagem transatlântica para provocarem outras oportunidades. Era uma grande necessidade e, ao mesmo tempo, “coragem” de tudo (do pouco) deixar e partir para o desconhecido. 

Muitos foram os que o fizeram. Muitos foram os que o não lamentaram. Sobretudo se considerarmos os “talentos escondidos” nas suas descendências e que não teriam sido detectados (talvez) se não tivessem tentado a aventura!

  ‎Maria era chamada Carmen por causa do amor de seu pai pela ópera de Bizet‎. Paixão pela ópera que influenciou o amor das filhas em cantar e dançar.

 No Brasil viviam num bairro bastante pobre, mas foi educada no Convento de Santa Teresa de Lisieux.

A irmã mais velha, Olinda, apanhou a tuberculose e foi enviada para Portugal para tratamento, onde morreu em 1931.

Carmen conseguiu o seu primeiro emprego em uma loja de gravatas aos 14 anos para ajudar a pagar o tratamento médico de sua irmã.

Mais tarde, trabalhou em uma boutique, ‎‎La Femme Chic,‎‎ onde aprendeu a fazer chapéus.‎ Rapidamente iniciou o seu pequeno negócio de chapéus (O que seria a sua “marca de fábrica” anos mais tarde nos palcos onde manteria essa vertente de modista através da indumentária).

 Começou a cantar em pequenas salas pela cidade. Seus pais, muito católicos, ‎não aprovavam o seu sonho de entrar no show business. Mas, apesar disso, sua mãe apoiou-a. Quando o seu pai descobriu que a sua filha tinha feito um teste para um programa de rádio ficou colérico.

Em pouco tempo ela foi descoberta e conquistou um lugar de cantora numa estação de rádio local conseguindo assim um contracto de gravação com a RCA. Em 1928, ela era uma verdadeira estrela no Brasil. Como acontecia com os cantores da época entrou no mundo do cinema. Fez sua estreia no documentário brasileiro A Voz do Carnaval (1933). Seguido dois anos depois com uma primeira longa-metragem.

No final de 1939 Carmen chegou, com muita fanfúrria da imprensa (Mídias da época), a Nova Iorque.

 Ela estava pronta para conquistar o coração dos americanos com seu talento. Foi convidada a cantar e a dançar para o Presidente Franklin D. Roosevelt.

 Em 1943, Miranda surgiu em alguns revues musicais na Broadway com grande sucesso distinguindo-se pelos seus números musicais sempre envergada com os chapéus de frutas que se tornaram da praxe.

Em 1945, ela era a mulher mais bem paga dos Estados Unidos. Em Hollywood entrou em 14 filmes entre 1940 e 1953.

Embora tenha sido aclamada como uma artista talentosa, (foi eleita a terceira pessoa mais popular nos Estados Unidos) a sua popularidade diminuiu no final da Segunda Guerra Mundial. Carmen Miranda veio a ressentir-se da imagem estereotipada da “bomba brasileira” que tinha cultivado e tentou libertar-se dela.

 Concentrou-se nas aparições em clubes nocturnos e tornou-se uma referência na televisão popularizando a música brasileira a fim de sensibilizar o público para a cultura latina.

Em 1941, foi a primeira estrela latino a ser convidada a deixar as suas mãos e impressões digitais no pátio do Grauman’s Chinese Theatre, e recebeu uma estrela no Passeio da Fama de Hollywood.

A 4 de Agosto de 1955 sofreu um ataque cardíaco durante uma gravação do The Jimmy Durante Show (1954). Foi para casa depois de ir a uma festa. Na manhã seguinte sofreu um segundo ataque que lhe foi fatal. Tinha apenas 46 anos.

Seu corpo foi levado para o Brasil, seu país adoptivo, onde a sua morte foi declarada período de luto nacional. O enterro foi seguido por uma multidão de fãs calculada em cerca de meio milhão de pessoas e acompanhado pelos carrilhões da igreja que executavam o “Adeus batucada”. 

Embora nunca tenha retornado a Portugal,‎ Carmem manteve a sua nacionalidade portuguesa.

Um museu foi construído no Rio de Janeiro em sua honra, assim como em Portugal, o Museu Municipal Carmen Miranda, situado em Marco de Canaveses, onde é reconhecida e homenageada com bastante orgulho de todos.  ■

Carlos Otero

In “Raio de Luz”

Escritor, ator, cantor lírico e encenador de teatro e de ópera

- Publicidade -

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.