Opinião: “Impacto da IA no Jornalismo Europeu: fim da objetividade ou nova era editorial?”, por André Aguiar

“O uso de inteligência artificial nas redações está redefinindo padrões éticos, modelos de negócios e o papel do jornalista na sociedade democrática europeia”

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André Aguiar, Especialista em Marketing, Escritor, Professor, Palestrante e Referência em Inteligência Artificial Aplicada aos Negócios
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A adoção da inteligência artificial pelas redações europeias avançou silenciosamente, mas com impactos estruturais profundos. Segundo o Reuters Institute Digital News Report 2024, 80% dos veículos na União Europeia já utilizam IA generativa para ao menos uma etapa do processo jornalístico — seja na apuração, escrita, edição ou distribuição de conteúdo. Isso vem ocorrendo em paralelo a uma crise de confiança no jornalismo tradicional, com desafios crescentes ligados à desinformação, polarização política e sustentabilidade econômica das mídias independentes.

Vejo essa tendência como ambígua. Por um lado, algoritmos são hoje capazes de gerar textos jornalísticos em segundos, cruzando dados públicos com linguagem natural — como nos relatórios automatizados sobre finanças, clima e esportes. Por outro, observo que a lógica algorítmica tende a priorizar cliques, previsibilidade e volume, o que coloca em xeque a função crítica e investigativa do jornalismo. Em países como França e Alemanha, já há discussões institucionais sobre a necessidade de rotular conteúdos produzidos com IA, sobretudo para preservar a credibilidade e rastreabilidade da informação em contextos eleitorais.

Acredito que o risco mais urgente não está na substituição do jornalista, mas na erosão de sua autonomia editorial. Quando editores dependem de ferramentas de IA para decidir quais pautas priorizar, quais ângulos explorar e quais audiências atingir, o espaço para decisões editoriais baseadas em interesse público — e não apenas em métricas de engajamento — tende a se estreitar. Isso desafia diretamente o papel histórico da imprensa como contrapoder nas democracias europeias. A Comissão Europeia já sinalizou que o AI Act poderá incluir cláusulas específicas para proteger a integridade jornalística, mas a implementação prática ainda é incerta.

Nesse cenário, vale destacar o papel dos sindicatos de jornalistas e conselhos de imprensa, como o European Federation of Journalists (EFJ), que vêm pressionando por maior transparência nos algoritmos utilizados pelas plataformas de distribuição e pelos próprios veículos. Além disso, universidades e escolas de jornalismo precisam atualizar currículos com urgência, formando profissionais capazes de interpretar e questionar sistemas automatizados, e não apenas usá-los como ferramentas neutras.

Uma boa forma de explorar mais esse tema é usar o Claude, assistente de IA conversacional desenvolvido pela Anthropic. Com respostas mais longas e contextualizadas que outros bots, Claude pode ajudar jornalistas a estruturar pautas, resumir documentos e até simular entrevistas com perfis institucionais. Minha dica é começar testando com prompts do tipo: “Crie três ângulos possíveis para uma reportagem sobre uso de IA em eleições locais”. O potencial é grande, mas o julgamento crítico ainda é insubstituível.

Estamos entrando em uma fase em que a inteligência artificial poderá tanto fortalecer quanto fragilizar os pilares do jornalismo europeu. A tecnologia não define o rumo — são as decisões institucionais, políticas e éticas que o farão.

O que estamos chamando de “eficiência editorial” não estaria, na verdade, diluindo o senso de responsabilidade pública das redações? ■

André Aguiar

Especialista em Marketing, Escritor, Professor, Palestrante e Referência em Inteligência Artificial Aplicada aos Negócios; Licenciatura em Matemática, MBA em Marketing Digital e Analista de Sistemas

www.a2digitalhub.com.br

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