Opinião: “Linguagem como enunciação”, por Maria Amélia Amaral Palladino

“Devemos cuidar da nossa língua, com carinho, inventividade e praticidade”

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Maria Amélia Amaral Palladino, presidente da Academia Luso-Brasileira de Letras
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Ao comemorar, no próximo dia 5 de maio, o “Dia da Língua Portuguesa”, devemos considerar, acima de tudo, sua consciência e importância, como veículo de comunicação das Nações e Comunidades Lusófonas e dos Países Africanos de Língua Portuguesa. Essa é sua função precípua e, como tal, deveria ser, principalmente, utilizada como enunciação, o que significa: “expressão, declaração, proposição”, de acordo com o Mestre Aurélio Buarque de Holanda.

Portanto, devemos cuidar da nossa língua, com carinho, inventividade e praticidade.

Não se trata de ser contra o ensino do Português-padrão. Absolutamente. A tese de que não se deve ensiná-lo baseia-se no preconceito, segundo o qual seria difícil aprendê-lo. Isso é falso, tanto do ponto de vista de capacidade dos falantes quanto do grau de complexidade de um dialeto padrão. Apenas, poder-se-ia evitar uma maneira exageradamente ortodoxa de se ensinar a nossa língua, a obsessão gramaticalística, o esquecimento a que se relega a prática da língua e, mais do que tudo, na opinião do eminente Professor Celso Pedro Luft, Mestre em Letras, pela PUC- RS, “a postura opressora e repressiva, alienada e alienante desse ensino”.

Talvez assim, em não havendo tal radicalismo, um número bem maior de jovens usaria melhor a língua portuguesa, que deveria ser mais bem apreciada, pois lida com nosso instrumento de expressão mais pessoal.

Exemplifica, ainda, o ilustre Professor: “Qual a razão de ordem científica para exigir que os estudantes dominem formas arcaicas que nunca ouvem e que pouco encontram nos textos escritos, mais correntes? “Respondemos: Isso deveria ser objeto, apenas, da atenção dos que pretendem ser especialistas, em determinado assunto.

Na realidade, se entrevistarmos alguns de nossos grandes escritores, dificilmente, alguém dirá que consulta gramáticas, quando escreve. O inverso, talvez, seja mais comum: os gramáticos – diga-se, de passagem, com muita simplicidade – costumam pinçar expressões encontradas em obras famosas e, daí, sugerirem ou enunciarem novas regras.

O talento de bem falar e escrever tem a ver com a gramática natural, o sistema de regras que formam a estrutura da língua, e que os falantes interiorizam, ouvindo e falando…

Logicamente, não se deve excluir o que é básico: a ortografia, a concordância nominal e verbal (tão relegadas a segundo plano), enfim, não se desprezariam as regras que contribuem para a eficiência comunicativa, mas as que embaraçam a comunicação…

Determinar o meio de comunicação seria adequado a cada Escola ou Universidade, ou Oficinas de Literatura ou Linguagem, para irem ao encontro dos interesses manifestados.

Outros autores poderiam ser citados nesta modesta comunicação, cuja única pretensão seria, possivelmente, no momento pós-unificação da língua portuguesa, escrita em todo o mundo lusíada, a sugestão de que, tanto aqui, como em Portugal, Ásia, África e Oceania, se prosseguisse na renovação dos estudos literários e dos métodos didáticos, para que a nossa língua portuguesa seja um veículo claro e seguro de comunicação entre os povos que a usam.

Isto posto, resta-nos insistir sobre o outro lado da questão, que não diz respeito à informalidade do uso do Português, mas ao mau uso da língua portuguesa.

O filólogo e professor Gladstone Chaves de Mello diz que “o fato de aceitar-se uma linguagem informal, descontraída, não significa aplaudir o empobrecimento, cada vez maior dos vocábulos, o uso abusivo e indiscriminado do palavrão e da gíria, o desconhecimento de formas verbais de uso corrente, fatores que contribuem para a desvalorização da língua pátria”.

Se a língua portuguesa é a nossa língua, idioma que nos une, por que não lhe darmos atenção e respeito?

Amemos a nossa língua portuguesa, que nos faz entender o irmão, que nos faz exteriorizar o cabedal que conseguimos adquirir, transmitindo-o ao próximo e descortinar, ao mundo, os mais profundos sentimentos, quando somos escritores, poetas, oradores de vários estilos…

Se Fernando Pessoa a considerou sua pátria, se Camões a exaltou, em admiráveis versos, nossos poetas brasileiros também nela encontraram força inspiradora.

Lembremo-nos de que ela é, e nunca deixará de ser, como citou Olavo Bilac, nossa “última flor do Lácio, inculta e bela”. 

Cabe-nos regá-la enquanto vivermos! ■

Maria Amélia Amaral Palladino

Presidente da Academia Luso-Brasileira de Letras

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