
Já se foi o tempo em que os governos e as Câmaras Legislativas dos dois países mandavam celebrar, em 22 de abril, evocando a chegada da frota cabralina ao sul da Bahia, o “Dia da Comunidade Luso-Brasileira”. E as comemorações não se faziam apenas nas escolas de Belmonte – terra onde nasceu o Navegador – e de Porto Seguro – lugar onde fundeou a armada – ocasião em que os professores marcavam para os alunos redações sobre o Descobrimento. Também noutras cidades portuguesas e em outros Estados brasileiros a data não passava em claro, nem nas escolas, nem junto aos monumentos a Pedro Álvares Cabral, que os temos em diversas cidades.
O “22 de abril” não constava do calendário dos feriados nacionais, mas, mesmo assim, no Brasil e em Portugal, sobretudo nos Parlamentos e nas escolas, era lembrado o feito de 1500 e episódios como a subida à Nau Capitânia dos primeiros indígenas, a carta de Pero Vaz de Caminha a El-Rei D. Manuel dando-lhe ciência da boa-nova e a Missa celebrada na praia por Frei Henrique de Coimbra.
Tudo isso foi-se apagando da memória coletiva. Nem deste lado do Atlântico, nem do outro, se mantiveram as comemorações do “22 de abril”. Os políticos escolhem agora outros assuntos para o “grande expediente” das casas legislativas e nas escolas, também permanece esquecido o feito de Pedro Álvares Cabral. E, em Portugal, tirando-se as flores depositadas no túmulo da Igreja da Graça, em Santarém, onde jazem as cinzas do Navegador, também o “Dia da Comunidade Luso-Brasileira” passa sem registro.
É um pedaço da História – talvez o pedaço mais significativo em fraternidade e partilha para os dois povos – que foi perdendo luminosidade e que para as novas gerações nem ganhou relevo, nem assinala o ponto de partida de uma grande nação – o Brasil. O cruzamento de etnias, a troca de valores, a evangelização e a construção da Pátria, o desenvolvimento e o progresso – tudo, no espaço luso-brasileiro, tem origem naquele encontro de civilizações e de povos.
Passaram-se mais de 500 anos: temos patrimônios em condomínio, temos a Língua que enriquecemos, temos a História que partilhamos, temos os afetos que transmitimos, temos “Heróis” e “Santos” que veneramos, temos Camões, Vieira, Bonifácio, D. Pedro, Eça de Queirós e Machado de Assis, temos tanto que dividimos – e, por isso, cabe perguntar: por que não devemos celebrar o “22 de abril” como o Dia da Comunidade Luso-Brasileira? Na tribuna dos Parlamentos, nas salas de aula, nos púlpitos das igrejas, no coração das crianças e na alma dos jovens… ■
Francisco Gomes da Costa
Presidente da Associação Luis de Camões – Rio de Janeiro