Opinião: “O Mundo em Transição e o Papel da Europa no Cenário Geopolítico em Transformação”, por Otacílio Soares

“Neste contexto de transição, entre o mundo que conhecemos e aquele ainda em formação, a Europa é instada a posicionar-se. Portugal, em especial, vê uma janela para repensar o seu papel”

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Otacílio Soares, economista, chairman da Targa 5 Advisors e presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira
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Vivemos um momento de grande turbulência geopolítica onde a estabilidade do passado deu lugar à incerteza. As relações internacionais, outrora norteadas por acordos multilaterais e políticas económicas previsíveis, hoje oscilam sob o peso de disputas comerciais, corridas tecnológicas, rearticulações militares e sentimentos nacionalistas crescentes.

No cerne dessas tensões, está a redefinição da liderança norte-americana, cuja diplomacia ora se retrai estrategicamente, ora ataca. O chamado Acordo de Mar-a-Lago, idealizado pela equipa económica da atual Administração norte-americana, simboliza tal movimento, inspirado em pactos do passado como Bretton Woods e Plaza, almeja desvalorizar o dólar, reindustrializar a economia local e repensar os termos da globalização, com foco em soberania e segurança produtivas.

Em contraposição, a China responde de modo pragmático, ampliando a sua esfera de influência na Ásia, África e América Latina mediante acordos bilaterais e difundindo a sua versão de ordem internacional multipolar. Deste embate sino-americano decorre o esgarçamento de instituições multilaterais e o surgimento de esferas de influência paralelas.

Neste contexto de transição, entre o mundo que conhecemos e aquele ainda em formação, a Europa é instada a posicionar-se. Portugal, em especial, vê uma janela para repensar o seu papel.

Com a União Europeia a buscar maior autonomia estratégica em energia, defesa e cadeias produtivas, nações de perfil diplomático equilibrado e inserção global, como Portugal, podem aproximar blocos económicos. Os laços culturais e comerciais com o Brasil e demais países do Mercosul conferem posição singular para mediar interesses e impulsionar novas rotas de negócios.

Mais do que nunca, o Atlântico Sul e o eixo euro-latino devem ser vistos como espaços de oportunidades geoeconómicas. Num cenário de disputas tarifárias e tecnológicas entre EUA e China, Brasil e Portugal encontram chance para aproximação não apenas comercial, mas em temas como segurança alimentar, energias renováveis, inovação e educação.

Num mundo em rápida transformação, espera-se dos líderes – públicos ou privados – visão prospetiva, capacidade de diálogo e compromisso com soluções sustentáveis. A nova ordem global não se erguerá sobre muros, mas através de pontes. E quem souber erigi-las com inteligência e sensibilidade estará melhor preparado para prosperar. 

Otacílio Soares da Silva Filho

Economista, Chairman da Targa 5 Advisors e Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira

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