Estando no Brasil há 14 anos, sempre que chegamos a esta época do calendário vêm à ideia a imagem da gastronomia portuguesa, os cheiros da panificação, a sua “caramelização” e os doces regionais, dos quais tive a oportunidade de degustar na minha infância.
O pormenor, da minha família ter integrantes das regiões Norte e Sul de Portugal, foi uma oportunidade de ficar com essas memórias, das quais a mesa era uma fotografia da gastronomia como ritual, para todas as idades, onde o nosso vinho do Porto, do Norte, não faltava, e a “Ginginha” do Sul, comparecia sempre.
Lógico, na minha tenra idade, não podia elaborar as harmonizações que proponho na atualidade, mas foi uma herança que tenho, agora, a oportunidade de experimentar e propor que a façam nas suas casas, como uma experiência cultural.
De entre desses “participantes” da mesa do ritual de Natal, destaca se um exemplar da nossa história europeia e nomeadamente, Ibérica: o Bolo Rei!
A história do bolo-rei remonta às festividades pagãs romanas, como as Saturnálias, e foi adaptada pela Igreja Católica para se associar à Epifania
Chegou a Portugal no século XIX trazido por franceses, popularizando-se na Confeitaria Nacional em 1870. A sua receita é baseada na tradição francesa e simboliza os presentes dos Reis Magos: o formato de coroa e a massa dourada são o ouro, e as frutas cristalizadas representam a mirra e o incenso.
Em Portugal “A Confeitaria Nacional” em Lisboa foi a primeira a introduzir o bolo no país por volta de 1870.
Decifrando a sua simbologia, a receita foi adaptada para simbolizar os presentes dos Reis Magos, sendo o Ouro: A forma de coroa e a massa dourada, o Incenso: O aroma do bolo e a Mirra, é representada pelas frutas cristalizadas e secas.
Após a proclamação da República em Portugal, a palavra “rei” no nome do bolo gerou controvérsia, levando a pastelarias a mudarem temporariamente o nome para “bolo nacional” ou “bolo de Natal”.
O nome original foi gradualmente recuperado, e hoje o “Bolo-Rei” é uma das iguarias mais tradicionais da época natalícia.
A tradição chegou ao Brasil através dos imigrantes portugueses, tornando-se popular e adaptando-se aos costumes locais, e como bom português, mantenho essa presença à mesa, com esta nova família, o Brasil, que me acolheu e tenho todo o prazer de compartilhar com histórias de infância, mas já com idade para elaborar a sua devida harmonização (risos). ■
Boas Festas e Feliz Natal para todos.
João Carlos Farrapa
Petit Sommelier, empresário, apresentador do programa “Uvas e Personalidades”
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