A poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares foi anunciada na quarta-feira, 8 de outubro, como vencedora do Prémio Camões 2025, o mais importante reconhecimento literário da língua portuguesa. A decisão foi tomada em reunião virtual do júri, composto por especialistas de Portugal, Brasil, Angola e Moçambique, e confere à autora o valor de 100 mil euros, divididos entre o Governo de Portugal e a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), vinculada ao Ministério da Cultura do Brasil.
Com 72 anos, Tavares é a quinta autora angolana a receber o prémio, concedido anualmente pelos governos do Brasil e de Portugal a escritores cujo conjunto da obra contribui para a difusão e o fortalecimento da língua portuguesa nos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O júri destacou a “fecunda e coerente trajetória de criação estética” da escritora e o “resgate de dignidade da poesia” presente em sua obra. O parecer sublinhou ainda o “lirismo sem concessões evasivas” de Tavares e a “relevante dimensão antropológica em perspectiva histórica” que atravessa sua produção poética e narrativa.
Fizeram parte da comissão os professores José Carlos Seabra Pereira (Universidade de Coimbra), Ana Mafalda Leite (Universidade de Lisboa), Francisco Noa (Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique), Lúcia Santaella (PUC-SP, Brasil), Arno Wehling (Academia Brasileira de Letras) e o escritor Lopito Feijó (Angola).
A ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, afirmou que a escolha “celebra a força e a beleza da literatura lusófona”. Segundo esta responsável, “a poesia de Ana Paula Tavares, tecida de memória, resistência e afeto, revela a potência das vozes africanas e femininas que enriquecem os patrimónios culturais da língua portuguesa”.
O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, destacou que “o Prémio Camões tem como destino e vocação a lusofonia” e que a premiada “reúne todas as virtudes que desaguam num compromisso ético”, com atenção às questões de África, Brasil e Portugal.
Percurso virtuoso
Nascida em 1952 na província da Huíla, em Angola, Ana Paula Tavares iniciou os estudos em História na Faculdade de Letras do Lubango, atual Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla. Em 1992, mudou-se para Portugal, onde concluiu graduação em Letras na Universidade de Lisboa, além de mestrado em Literaturas Africanas e doutorado em Antropologia pela Universidade Nova de Lisboa. Atualmente, leciona na Universidade Católica de Lisboa.
Autora de mais de dez livros que abrangem poesia, crónicas e romances, Tavares é considerada uma das principais vozes da literatura angolana e lusófona contemporânea. Entre suas obras mais conhecidas estão “Ritos de Passagem” (1985), “O Lago da Lua” (1999), “A Cabeça de Salomé” (2004) e “Um rio preso nas mãos” (2019).
Recebeu, em 2004, o Prémio Mário António de Poesia da Fundação Calouste Gulbenkian e, em 2007, o Prémio Nacional de Cultura e Artes de Angola. Os seus textos integram antologias publicadas em Portugal, Brasil, França, Alemanha, Espanha e Suécia, consolidando sua presença na literatura de língua portuguesa.
Recorde-se que o Prémio Camões foi instituído em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal com o objetivo de reconhecer autores pelo conjunto de sua obra e valorizar a criação literária nos países de língua portuguesa. A distinção homenageia Luís Vaz de Camões, o maior poeta da literatura em português, e o diploma é assinado pelos chefes de Estado de Brasil e Portugal. Desde sua primeira edição, em 1989, o prémio já contemplou 36 autores de cinco países lusófonos.
A vencedora da edição anterior, em 2024, foi a poeta brasileira Adélia Prado. ■