
O Centro do Rio de Janeiro, bairro localizado na Zona Central da cidade, onde estão inúmeros prédios históricos, é para o empresário português Domingos Cunha “um museu a céu aberto, mas com alma viva”, um “território de redescoberta”. Nascido em Póvoa de Lanhoso, Norte de Portugal, Domingos saiu com a família aos 14 anos, em 1964, para viver no Rio, onde descobriu que caminhar pelas ruas era como atravessar séculos de história, marcada nas fachadas dos edifícios, que ainda ecoam aromas e vozes dos portugueses. Um legado cultural ainda vivo na arquitetura, na música, nos livros, na língua.
“A cidade respira, conta histórias e recebe o mundo todos os dias”, enfatizou. É essa aura de séculos que move Domingos Cunha, anfitrião do Bar Glória, fundado em 1945 como símbolo da sua luta por uma vida digna e onde reinventa, para agradabilidade dos seus clientes, como um ponto de chegada e de partida. Para ele, o Rio é assim: não importa a partida, mas o desejo de retornar, para descobrir a autenticidade de ser um carioca na “cidade maravilhosa”.
É por essa história de homens e prédios que o Bar Glória, uma partícula arquitetônica de 70 anos, propõe um roteiro afetivo e turístico que percorre as veias históricas da capital fluminense, combinando o prazer do convívio com a descoberta cultural.
Do Passeio Público ao Parque do Flamengo: o trajeto da alma carioca
O visitante pode iniciar a jornada a poucos metros do bar, no Passeio Público, o mais antigo jardim urbano das Américas, concebido no século XVIII. Ali, as árvores centenárias e as esculturas neoclássicas preparam o olhar para um Rio que se faz entre o passado e o presente.
Seguindo pela Avenida Augusto Severo, a vista abre-se para a Glória, bairro que foi aristocrático, artístico e hoje é símbolo de resistência urbana. Caminhar por essas ruas é ouvir a cidade respirar ao som dos músicos de rua, dos vendedores de flores e do tilintar dos copos que se encontram ao fim da tarde.
O percurso pode incluir uma subida até a Escadaria Selarón, mosaico de cores e irreverência criado pelo artista chileno que escolheu o Rio como lar, ou uma breve pausa no Museu da República, antiga residência do presidente Marechal Deodoro. Cada ponto conta uma história que desemboca inevitavelmente no Bar Glória, onde a cidade encontra descanso, conversa e sabor.
O Glória como destino e símbolo
Ao final do passeio, o visitante chega ao Bar Glória, que Domingos descreve como “um porto seguro em meio à pressa moderna”. O ambiente, de luz suave e arquitetura preservada, mistura sotaques e gerações: turistas que acabam de descobrir o bairro, intelectuais, artistas e cariocas de longa data.
As mesas tornaram-se ponto de observação dos pequenos rituais do centro: o trânsito que diminui ao entardecer, o reflexo do sol nas janelas dos prédios históricos, o murmúrio de quem se reencontra depois de anos. O bar é o epílogo natural desse roteiro, onde a cidade se resume a um copo de chope bem tirado ou a um coquetel autoral criado pela equipe de Domingos.
Turismo de alma e experiência na cidade
Este roteiro não é apenas geográfico: é emocional. Ele convida o visitante a ver o centro não como cenário de passagem, mas como espaço de pertencimento e memória. O Bar Glória, nesse contexto, torna-se um lugar de convergência: o ponto onde o passado se acomoda à mesa, o presente brinda e o futuro aguarda, sereno, a próxima história.
Para Domingos Cunha, “o verdadeiro luxo do Rio está em poder sentar-se, olhar à volta e perceber que a beleza não está nas vitrines, mas nas esquinas”.
“O centro é o coração que nunca deixou de bater”, finalizou Domingos Cunha. ■




