
A escritora e especialista em felicidade organizacional Sonia Crisóstomo apresenta “Felicidade Descomplicada – Lições Que Ninguém Nunca Te Contou”, uma obra que propõe uma abordagem prática e reflexiva sobre a construção do bem-estar no quotidiano.
O livro desafia conceitos pré-estabelecidos sobre sucesso e felicidade, e aposta numa leitura que alia psicologia positiva, filosofia e experiências reais para inspirar escolhas conscientes e caminhos mais autênticos, tanto na vida pessoal como no contexto profissional. Para líderes, colaboradores e leitores em busca de mais equilíbrio, a autora oferece uma jornada de autoconhecimento que visa tornar a felicidade um princípio orientador — e não apenas um destino.
Em entrevista à nossa reportagem, a autora explica a motivações dessa nova obra que já passou pela Feira do Livro de Lisboa, e terá agenda internacional nos próximos meses.
O que o leitor pode esperar encontrar em “Felicidade Descomplicada” que o ajude, na prática, a aplicar conceitos de bem-estar no dia a dia, seja na vida pessoal ou profissional?
No livro Felicidade Descomplicada – Lições Que Ninguém Nunca Te Contou ofereço um convite sincero: que cada pessoa possa reencontrar sua própria definição de felicidade — não aquela imposta pelos outros, nem a que nos venderam como fórmula pronta, mas aquela que nasce do autoconhecimento e da reconexão com a própria essência. Parto do entendimento de que o ser humano é uma instância única, com vivências, dores, sonhos e sensibilidades que não se repetem. Por isso, acredito que o bem-estar deve ser um estado cultivado de forma integral — presente em todos os espaços que ocupamos: nas nossas relações afetivas, no trabalho, nos estudos, no convívio familiar, e principalmente, no nosso diálogo interno. A felicidade não é uma linha de chegada, e sim uma forma de caminhar. Por isso, afirmo no livro que ela deve ser o nosso modus operandi emocional — um direito ao qual todos podemos acessar, quando paramos de olhar para fora e passamos a escutar o que pulsa dentro de nós. Outro ponto essencial que exploro é que a felicidade é profundamente subjetiva. Aquilo que gera alegria em mim pode não ter o mesmo efeito em você — e está tudo certo. Cada pessoa percebe, sente e expressa felicidade de maneira única. Por isso, o livro não entrega uma receita mágica, mas oferece um caminho reflexivo e prático. Ao longo dos capítulos, apresento perguntas provocadoras, atividades de autoconhecimento e reflexões baseadas em psicologia positiva, filosofia e narrativas reais. Tudo isso conduz o leitor a uma jornada leve, mas transformadora, onde ele descobre que a felicidade não está no futuro, nem depende de grandes conquistas externas. Ela está na forma como escolhemos viver hoje — com consciência, verdade e simplicidade. Minha intenção com este livro é desmistificar o tema, descomplicar os discursos e devolver às pessoas o poder de serem felizes do seu próprio jeito, sem comparações, sem pressões, e com muito mais autenticidade.
O seu trabalho está fortemente ligado à promoção da felicidade no contexto organizacional. Como esse livro se conecta com essa missão e de que forma ele pode influenciar líderes e equipas?
Sim, o meu trabalho está diretamente conectado à promoção da felicidade no ambiente organizacional — e esse livro nasce como uma extensão natural dessa missão. Durante anos, ao acompanhar empresas, líderes e equipas, percebi um padrão: falamos muito sobre performance, metas, resultados, comunicação eficaz e cultura organizacional. Incentivamos a alta performance e premiamos o sucesso visível. No entanto, há uma pergunta essencial que raramente é feita com a profundidade necessária: quem cuida do líder? A verdade é que não existe uma liderança sólida sem autoconhecimento. Um líder que não se conhece, que não entende seus limites emocionais ou seus próprios valores, dificilmente conseguirá inspirar, engajar e sustentar uma equipa com inteligência emocional e propósito. O livro Felicidade Descomplicada vem preencher exatamente essa lacuna. Ele é, antes de tudo, um convite à autodescoberta. É um espaço onde o leitor — seja líder, colaborador, empreendedor ou qualquer profissional — pode parar, respirar e refletir sobre quem é, onde está e o que realmente importa. Ao aplicar os exercícios e reflexões do livro, o gestor acessa não apenas sua melhor versão como ser humano, mas também sua forma única de liderar com autenticidade e empatia. Isso traz um impacto direto no clima organizacional: líderes mais conscientes geram ambientes mais saudáveis, equipas mais engajadas e relações mais duradouras. Além disso, trago no livro insights práticos sobre bem-estar emocional, escuta ativa, cultura de gentileza e autocuidado como ferramentas estratégicas de liderança. Não se trata de romantizar a felicidade no trabalho, mas de oferecer caminhos reais para que líderes se tornem também promotores de saúde emocional dentro das empresas. Porque no final das contas, pessoas felizes performam melhor — e permanecem. E isso é bom para o negócio, para a cultura e para o futuro das organizações.
Numa altura em que tantas pessoas procuram respostas para o equilíbrio entre produtividade e bem-estar, acredita que estamos mais preparados para aceitar a felicidade como pilar estratégico nas organizações?
Sim, acredito que estamos mais preparados — e, mais do que isso, mais pressionados — a aceitar a felicidade como um pilar estratégico dentro das organizações. Durante muito tempo, falar de bem-estar no ambiente corporativo era quase um tabu. A produtividade era medida apenas por números e entregas, ignorando o fator humano que sustenta toda a operação. Mas hoje, com o aumento exponencial de casos de burnout, estresse crônico, adoecimento emocional e pedidos de desligamento voluntário, ficou impossível continuar ignorando uma verdade fundamental: a saúde financeira de uma empresa está diretamente conectada à saúde mental de seus colaboradores. A felicidade no trabalho não é um luxo, nem uma tendência passageira — é uma ferramenta comprovada de inovação, engajamento, retenção e produtividade sustentável. Pesquisas de grandes instituições como Gallup e estudos publicados pela Forbes vêm demonstrando, com dados, que ambientes emocionalmente saudáveis produzem resultados mais consistentes, com menor rotatividade, menos absenteísmo e equipes mais criativas e leais. As empresas que já compreenderam isso deram um passo corajoso: perguntaram às suas pessoas “O que você espera de nós?” — e descobriram que o salário, embora essencial, não é o principal fator de permanência. O que mais aparece nas “wish lists” dos colaboradores é o sentimento de liberdade: liberdade para comunicar ideias, para agir com autonomia, para ser quem se é sem medo de punição emocional. Estamos, sim, vivendo uma mudança cultural profunda. Algumas empresas já caminham à frente, enquanto outras ainda resistem, presas a modelos hierárquicos rígidos e culturas ultrapassadas. Mas não há como evitar: estamos entrando em uma nova era organizacional — mais humana, mais consciente e mais centrada em valores. E como em todo processo evolutivo, haverá o que chamo de “darwinismo empresarial”: sobreviverão não as empresas maiores ou mais tradicionais, mas aquelas que forem mais capazes de se adaptar à nova realidade. E essa nova realidade exige líderes conscientes, equipes emocionalmente seguras e uma cultura que reconheça que felicidade, bem-estar e produtividade não são opostos — são, na verdade, profundamente interdependentes. ■