Viagem imersiva em Londres convida mulheres a redescobrirem “força e confiança”

Experiência faz parte da primeira edição do “Projeto Conexões pelo Mundo” e percorre estações icónicas como Notting Hill, Westminster e Wimbledon, conectando desenvolvimento de carreira e transformação pessoal

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Foto: Juliana Kaiser e Luciana Ikedo/divulgação
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O trabalho de cuidado não remunerado realizado por mulheres no Brasil equivale a 8,5% do PIB, chegando a 13% quando comparado ao trabalho de homens, segundo a FGV IBRE. Monetariamente, isso agregaria, ao PIB de 2023, por exemplo, cerca de R$ 1,1 trilhão, cerca de 183 mil milhões de euros, aproximadamente 10% do produto nacional brasileiro. Esta sobrecarga doméstica compromete, segundo especialistas, carreiras, ocasiona abortos em jornadas profissionais, adoecimentos emocionais e menor acesso a promoções. É o caso de 40% das mães com três ou mais filhos, que ficam fora da força de trabalho para cuidar da família, em contraste com apenas 0,6% dos homens na mesma situação.

Segundo o levantamento, mulheres também demoram mais a conseguir terminar os estudos, assim como aquelas que nascem no Interior de cidades grandes podem ter mais dificuldade em atingir o chamado “lugar ao sol”. Realidades enfrentadas/derrubadas pela doutoranda pela University College London, mentora de carreira para mulheres e doutoranda em Género e Sexualidade Juliana Kaiser e pela planeadora financeira Luciana Ikedo.

Juliana começou a trabalhar cedo, estimulada pelos pais, fez curso técnico com receio do futuro e alternou estágio e o curso universitário mais tarde para ter, desde sempre, alguma independência financeira. Enfrentou situações excludentes durante a graduação em História da Arte e elas encorajaram-na a viajar para conhecer os lugares sobre os quais ouvia e nunca tinha estado, se aventurando três meses na Europa, na primeira vez em que saiu do Brasil, para derrubar essa desigualdade. 

Luciana, filha de um motorista de táxi e de uma vendedora de loja, cresceu numa região periférica de São Paulo e foi uma das primeiras da família a concluir o ensino superior. Aos 30 anos, decidiu tirar o primeiro passaporte e inscreveu-se num programa da FGV em parceria com a Universidade de Ohio. Para lá chegar, precisou romper barreiras pessoais, enfrentar as restrições de um casamento tradicional e o medo de viajar sozinha para fora do Brasil. O seu superior à época enxergou na iniciativa uma oportunidade de desenvolvimento profissional e, mais do que conceder férias, incentivou que ela ampliasse a experiência com visitas técnicas em empresas americanas. Assim, abriu caminho para uma trajetória internacional que uniria formação acadêmica e prática de mercado.

Experiências como as de Juliana e Luciana revelam o desejo pela abundância, não sem medos, não com facilidades, não num mundo em que as empodera para viajarem sozinhas. Segundo a oitava edição do Raio-X do Investidor Brasileiro (ANBIMA/Datafolha), apenas cerca de 8% das mulheres investiram em 2024, e menos de 10% do total feminino conseguiu aplicar recursos em produtos financeiros, principalmente por falta de condições, o que evidencia os obstáculos reais que muitas enfrentam ao buscar autonomia financeira. Esse cenário reforça a importância de iniciativas como Conexões pelo Mundo, que combinam formação, confiança e ação transformadora.

Uma grande parcela da população brasileira enfrenta obstáculos reais para iniciar uma viagem internacional, sobretudo por motivos financeiros ou por medos subjetivos como receios de idioma e da utilização de transportes públicos no estrangeiro, também por receio de como podem ser olhadas apenas por estarem sozinhas.

Nessa viagem, aos 19 anos, Juliana conta que se sentiu, pela primeira vez, ocupando espaços.

“Dali em diante preparei um plano para viajar sempre e manter a chama pelo novo e para ajudar a encarar as desigualdades do Brasil”, afirmou, recordando que, durante dez anos levou alunos, maioritariamente mulheres, para diferentes países com o objetivo de ver arte.

“Assim fui ganhando o mundo e também autoconfiança” contou Juliana, que, ao fazer a sua transição de carreira para a área de desenvolvimento humano, sonhava em partilhar essa vivência com outras mulheres. Hoje, conhece mais de 40 países, já morou na Inglaterra, para onde está retornando para finalizar o seu doutorado em Género e Sexualidade, no Peru e em Portugal.

Já Luciana, desde aquela primeira experiência fora do país, somou no passaporte carimbos de 24 países e palestras em cidades como Porto, Lisboa, Barcelona e Madrid, além de participar de congresso financeiro em Málaga, na Espanha, de um evento com visitas técnicas em Berlim e de um curso na University of Tampa, nos Estados Unidos. 

“Cada viagem foi muito mais do que um deslocamento geográfico. Foi a chance de conhecer realidades diferentes, criar conexões e entender que o mundo é imenso, mas ao mesmo tempo feito de pontos de encontro”, refletiu Luciana, que disse que, “hoje, acredito que chegou a hora de levar outras mulheres a viverem essa expansão, para que elas também voltem diferentes de como partiram.

Experiências de expansão como as de Juliana e Luciana encorajaram-nas a montar o Projeto Conexões pelo Mundo, com a primeira edição em Londres. As vivências das duas, sobre resolver os perrengues fora do país, fizeram-nas aprender a lidar com pressão, pensar rápido, apreciar a hospitalidade e promover experiências, antes mesmo dessa expressão virar o cliché.

Entre os sons inconfundíveis do metro londrino e o aviso “Mind the Gap”, um grupo de brasileiras vai viver uma viagem que é também uma travessia Interior. A proposta combina turismo cultural com reflexões sobre mudanças pessoais, profissionais e emocionais, passando por marcos emblemáticos da capital britânica.

A ideia é que essas mulheres experimentem o pulsar a cada estação visitada, de Notting Hill a Westminster, de Wimbledon a outras paradas históricas. As participantes mergulharão não apenas em histórias britânicas, mas também nas suas próprias vivências partilhadas no grupo.

O objetivo das idealizadoras é que cada “participante volte para casa não só com fotos incríveis, mas com uma versão mais confiante, visível e potente de si mesmas e em posse dos resultados do Perfil Comportamental DISC, como parte do seu processo de autoconhecimento”. Uma ferramenta que ajuda a identificar o estilo de comportamento e comunicação individual e proporcionando insights sobre as suas forças, motivações e formas de se relacionar com o mundo.

O roteiro combina passeios icónicos, atividades reflexivas e momentos de troca entre os participantes, palestras sobre educação financeira e outras atividades, criando um ambiente propício para o crescimento pessoal em visitas ao Palácio de Buckingham; Piccadilly Circus e Trafalgar Square; Downing Street, Praça do Parlamento com a espetacular Abadia de Westminster e o Palácio de Westminster (“Big Bem”), além da de Covent Garden, centro de compras e entretenimento no West End de Londres, que abriga lojas de moda, restaurantes, barracas de artesanato e artistas de rua.

Como parte da experiência desta viagem, todos os participantes serão convidados a contribuir como coautores de um livro coletivo, que será lançado após o retorno ao Brasil. A ideia é que “cada viajante registe as suas impressões, aprendizados e momentos marcantes, dando origem a uma compilação de relatos autênticos sobre o desenvolvimento pessoal ao longo do percurso, refletindo a diversidade e a profundidade das jornadas”.

Na preparação, e para levar na bagagem, quem se candidatar à experiência vai passar por reuniões on-line de orientações do que levar e como se preparar tecnicamente para a imersão, além de reuniões de acolhimento.

Entre os destaques da viagem, uma playlist especial para viver esses momentos, com canções como “ It’s a Beautiful Day” – U2 e “London Calling” – The Clash.

“Vai ser incrível e as mulheres merecem derrubar mais essa barreira nas suas vidas”, comemorou Juliana Kaiser.

“Queremos que cada participante volte com a sensação de que o mundo é seu também, que existe lugar, voz e espaço para ela em qualquer lugar que escolher estar”, finalizou Luciana Ikedo. ■

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