A presença portuguesa no Rio de Janeiro, Brasil, não se limitou à arquitetura, ao comércio e às artes. Na mesa, as heranças lusitanas encontraram terreno fértil para se perpetuarem. Bacalhau em diferentes versões, sardinhas assadas, caldos fumegantes e doces conventuais cruzaram o Atlântico com os imigrantes lusos e ganharam espaço entre cariocas e turistas. No centro histórico da cidade, o Bar e Restaurante Glória, fundado em 1945, tornou-se um ponto de referência dessa tradição.
“Trouxemos para cá os pratos que destacam Portugal, e as suas regiões, e conseguimos conquistar o paladar dos brasileiros”, afirmou Domingos Cunha, responsável pelo estabelecimento.
Natural de Póvoa de Lanhoso, em Braga, Domingos chegou ao Rio de Janeiro nos anos 1980 e assumiu a gestão do restaurante, consolidando a marca como um espaço de encontro entre culturas. Entre a variedade do cardápio, o destaque é dado às receitas lusitanas que convivem lado a lado com pratos da rotina carioca, como o bacalhau, feijoada à Trasmontana e leitão à bairrada e os famosos bolinhos de bacalhau, sem esquecer, por vezes, os pasteis de nata, como sobremesa. Pratos tradicionais no Brasil, como a feijoada brasileira, carne assada com nhoque ou dobradinha também estão presentes. Essa diversidade reflete a fusão entre as tradições de Portugal e do Brasil, mas, como sublinha Domingos, “a alma do restaurante continua portuguesa, porque mantemos as nossas raízes e o modo autêntico de cozinhar”. Os vinhos portugueses também integram a carta do restaurante, respeitando, claro, as altas temperaturas que se faziam sentir na cidade maravilhosa.
A localização estratégica, na Rua Acre, junto à Praça Mauá e à histórica Rádio Nacional, reforça o valor simbólico do espaço. Frequentado por comerciantes, estudantes, trabalhadores de escritórios e turistas que circulam pelos museus e instituições da região, o Bar e Restaurante Glória é palco de almoços rápidos e também, muitas vezes, de reuniões de negócios.
As sobremesas, com destaque para a banana flambada, tornaram-se quase obrigatórias entre os clientes habituais. O segredo, segundo o próprio gestor, está no equilíbrio entre tradição e inovação.
“As pessoas vêm em busca da memória afetiva, mas também esperam qualidade e atendimento que façam jus ao nome da casa, e celeridade no atendimento. Aqui no Rio, estamos localizados no centro financeiro da cidade, e o tempo é escasso, então, temos de servir bem e rápido”, disse Domingos.
O percurso de Domingos Cunha e a história do Bar e Restaurante Glória ilustram a importância da culinária portuguesa como património vivo no Rio de Janeiro. Mais do que manter receitas, a casa preserva um elo cultural entre países irmãos. Através dos sabores, perpetua-se a identidade lusa em terras brasileiras, mostrando que gastronomia é também memória coletiva e partilha. Ao longo das décadas, o restaurante provou que a tradição pode ser reinventada diariamente, sem perder a autenticidade que fez da culinária portuguesa uma das mais reconhecidas do mundo. Um trabalho feito com “gosto” pelo minhoto Domingos Cunha. ■