Opinião: “A Língua Portuguesa como Passaporte de Integração”, por Nuno Cardoso

“A língua não é apenas meio de comunicação — é o tecido invisível da cidadania”

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Nuno Cardoso, ex-presidente da Câmara Municipal do Porto
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A política de imigração de um país é, antes de tudo, um espelho da sua visão de futuro. Ela revela não apenas como se organiza administrativamente a entrada e permanência de estrangeiros, mas sobretudo como se define a identidade nacional em tempos de mobilidade global. Neste Dia Mundial da Língua Portuguesa, é tempo de afirmar com clareza: Portugal precisa de uma política migratória coerente com a sua história e com o seu maior património — a língua.

A recente decisão de notificar mais de 4.500 imigrantes para abandonar o território nacional causou compreensível inquietação. Mas um dado subtil merece ser sublinhado: apenas cerca de 10% desses imigrantes são de nacionalidade brasileira. Este número, embora não explicitado nas manchetes, pode apontar para uma tendência reveladora. A língua portuguesa, ainda que de forma implícita, tem sido um critério de permanência.

Não se trata de favoritismo, nem de exceção cultural. Trata-se de reconhecer que a partilha da língua é uma ponte natural para a integração. Quem fala português compreende a administração pública com mais facilidade, participa mais rapidamente da vida económica e tem melhores condições de se inserir nas comunidades locais. A língua não é apenas meio de comunicação — é o tecido invisível da cidadania.

Portugal tem hoje uma oportunidade rara de transformar a sua herança linguística em estratégia de futuro. Ao contrário de muitas nações que enfrentam desafios semelhantes, o nosso país pertence a uma comunidade global de 265 milhões de falantes. A lusofonia pode ser mais do que um ideal diplomático: pode ser um critério pragmático de integração. Incluir quem já fala a nossa língua é fortalecer o que temos de mais nosso.

A cidade do Porto, pela sua história de diáspora e acolhimento, pode liderar este novo olhar. Políticas locais de integração baseadas na partilha da língua — como cursos gratuitos, validação profissional, mediação cultural — não apenas facilitam a adaptação dos imigrantes, como também promovem a coesão social. Valorizar a língua portuguesa como critério não é apenas um gesto identitário — é uma escolha racional, justa e eficiente.

A imigração é um dos grandes temas do nosso tempo. E o que diferencia uma sociedade madura de uma sociedade fechada é a forma como ela escolhe integrar. Neste Dia da Língua Portuguesa, deixemos que a nossa maior riqueza imaterial seja também o melhor critério de pertencimento. Porque quem fala a nossa língua já começou a fazer parte de nós. ■

Nuno Cardoso

Ex-presidente da Câmara Municipal do Porto

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