“Temos um soft power poderosíssimo”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa durante encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa

Evento em Cascais reuniu lideranças políticas e institucionais que sublinharam a diáspora como pilar do futuro estratégico de Portugal; esta foi a 10ª edição do Encontro Anual da entidade

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Conselho da Diáspora Portuguesa (CDP) conta com 376 conselheiros portugueses presentes em 44 países dos cinco continentes. Foto: Conselho da Diáspora Portuguesa/divulgação
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O Conselho da Diáspora Portuguesa encerrou o ano de 2025 com o seu encontro anual, realizado no último dia 18 de dezembro, no Pestana Cidadela Hotel, em Cascais, reunindo as principais figuras do Estado, da diplomacia e da economia para “afirmar o capital humano da diáspora” como ativo estratégico de Portugal, reforçar a cooperação institucional entre conselhos e sublinhar o papel das comunidades portuguesas na projeção internacional do país.

Em declarações à Agência Incomparáveis, o presidente do Conselho da Diáspora Portuguesa, António Calçada de Sá, fez um balanço positivo do encontro anual da instituição, sublinhando o envolvimento das mais altas entidades do Estado português e o cumprimento dos objetivos estratégicos definidos.

“Este encontro anual cumpre plenamente os objetivos, desde logo pela agenda, pelo poder de convocatória e pela presença institucional que conseguimos assegurar”, afirmou.

Entre os destaques do encontro, António Calçada de Sá salientou o apoio expresso pela Presidência da República e pelo Governo portugueses.

“Tivemos a presença de dois secretários de Estado, o depoimento do nosso vice-presidente honorário, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e o encerramento com o Presidente da República de Portugal, que voltou a manifestar todo o apoio à diáspora portuguesa”, referiu, sublinhando ainda o crescimento da estrutura desde a sua fundação.

“Em 2012 éramos 24 fundadores. Hoje somos mais de 370 conselheiros e conselheiras, presentes nos cinco continentes e em mais de 40 países”, afirmou, considerando que este percurso demonstra a consolidação e relevância do Conselho da Diáspora Portuguesa.

No plano institucional, António Calçada de Sá destacou o reforço do protocolo entre o Conselho da Diáspora Portuguesa e o Conselho das Comunidades Portuguesas.

“Trabalhamos conjuntamente. Para mim, não há “Portugais” nem divisões. Isto é por Portugal e para Portugal, de forma inclusiva”, declarou.

Segundo este responsável, a cooperação entre as duas estruturas é essencial para a afirmação do Conselho da Diáspora.

“prioridade estratégica do Estado”

“Um Conselho de Diáspora relevante tem de ser visível, útil, plural e transformador”, afirmou, sublinhando que essa pluralidade assenta na participação de portugueses e portuguesas espalhados pelo mundo.

“É daí que nasce a nossa vocação e o acordo que temos com o Conselho das Comunidades Portuguesas”, concluiu.

A importância desse protocolo foi também referida pelo presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas, Flávio Martins.

“Já há mais de cinco anos que procurávamos desenvolver ações conjuntas e uma maior aproximação com o Conselho da Diáspora Portuguesa, em especial com o seu presidente, António Calçada de Sá”, afirmou à Agência Incomparáveis, Flávio Martins.

De acordo com este responsável, o protocolo, assinado em julho, na Assembleia da República, envolve estruturas com enquadramentos institucionais distintos, mas objetivos convergentes, uma iniciativa que responde também a uma orientação do Presidente da República portuguesa no sentido da cooperação entre conselhos ligados às comunidades portuguesas.

Sobre a sua presença no encontro, o presidente do CP-CCP considerou-a relevante para consolidar essa cooperação institucional.

“Este encontro permite aprofundar relações, alinhar estratégias e criar condições para projetos comuns, incluindo entre os jovens dos dois conselhos”, reiterou.

Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, que participou no encontro do Conselho da Diáspora Portuguesa através de uma mensagem em vídeo, garantiu que a diáspora portuguesa continua a ser uma prioridade estratégica do Estado.

“Hoje, como sempre, a diáspora portuguesa é uma prioridade dos governos portugueses e também deste Governo”, declarou, sublinhando o diálogo mantido com o Conselho da Diáspora e os resultados alcançados.

“Temos tido um diálogo com o Conselho da Diáspora com muitos resultados concretos”, acrescentou o ministro, que destacou o papel dos fóruns Euro África e Euro Américas, promovidos pelo Conselho.

“Quero salientar o trabalho magnífico que têm feito, quer no Euro África, quer no Euro Américas, fóruns que tanto têm trazido a Portugal”, disse, apontando ainda a relevância das interações da diáspora em vários pontos do mundo.

“A vossa missão é fundamental. São, se quiserem, uma extensão da nossa enorme e altamente competente máquina diplomática”, afirmou Rangel, que, na parte final da mensagem, o ministro apelou ao envolvimento da diáspora em duas candidaturas consideradas estratégicas para o país. A primeira é a candidatura de Portugal a um lugar não permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

“A eleição terá lugar em junho de 2026. Há três países candidatos para dois lugares e todo o esforço, formal e informal, é importante para ganhar esta eleição”, comentou, defendendo a imagem de Portugal como “um país construtor de pontes no sistema internacional”.

Paulo Rangel apelou ainda ao apoio à candidatura da cidade do Porto a sede da Autoridade Aduaneira da União Europeia.

“Para aqueles que vivem e trabalham no espaço da União Europeia, seria muito importante dar visibilidade a esta candidatura”, realçou, sublinhando a capacidade da diáspora para afirmar temas estratégicos portugueses nos países onde está inserida.

“país com presença ativa à escala global”

A encerrar, o ministro reiterou a confiança no papel das comunidades portuguesas no exterior.

Também em declarações à Agência Incomparáveis, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Emídio Sousa, classificou como “muito importante” a sua participação no encontro do Conselho da Diáspora Portuguesa, sublinhando a relevância estratégica do diálogo estabelecido.

“Foi um encontro extremamente importante e permitiu apresentar o projeto que temos para as comunidades portuguesas e para a afirmação de Portugal no mundo”, afirmou.

Durante a sua fala, Emídio Sousa destacou a visão de um país com presença ativa à escala global.

“Assumimos a nossa capacidade de estarmos em todo o mundo de forma profundamente ativa, enquanto uma comunidade trabalhadora, integrada e de sucesso”, declarou, enquadrando essa ambição no conceito de Portugal Nação Global. Segundo o governante, este projeto terá o seu arranque formal nos dias 29 e 30 de abril, num evento a realizar em Lisboa. 

“Será um momento de afirmação de um novo conceito de portugalidade, associado não apenas a um território geográfico, mas a uma nação presente em todos os continentes e em todas as comunidades”, afirmou Emídio Sousa, que defendeu que a sua presença no encontro contribuiu para clarificar a nova abordagem do Governo às comunidades portuguesas.

“A participação neste evento permitiu explicar a nova dimensão estratégica que damos às comunidades portuguesas e será um elemento catalisador do sucesso do evento de abril”, concluiu.

Uma visão que mereceu a atenção do secretário de Estado da Economia de Portugal, João Rui Ferreira, que destacou o papel estratégico da diáspora portuguesa na projeção económica de Portugal, sublinhando a sua capacidade de adaptação e de criação de valor em contextos internacionais diversos.

“A diáspora portuguesa é, de facto, extraordinária. É um grande fator de orgulho e um grande fator de motivação para o país”, afirmou.

Durante a sua intervenção, João Rui Ferreira valorizou o perfil cultural dos portugueses enquanto agentes económicos globais, salientando a flexibilidade e a inteligência relacional como ativos distintivos.

“Os portugueses não se impõem pela força, impõem-se pela capacidade cultural, pela forma de comunicar e pela maneira como constroem relações”, declarou, defendendo um posicionamento assente num “orgulho moderado”, distante de posturas arrogantes.

O governante destacou ainda a aptidão dos portugueses para operar em mercados muito distintos, ajustando estratégias e práticas de negócio às realidades locais.

“É totalmente diferente fazer negócio na Arábia Saudita, na Dinamarca, nos Estados Unidos ou na China, e os portugueses têm uma grande capacidade de se adaptar a cada um desses contextos”, referiu, considerando essa competência determinante para o sucesso internacional das empresas nacionais.

João Rui Ferreira sublinhou igualmente a importância da comunicação intercultural e da leitura dos diferentes mapas culturais no desenvolvimento económico externo.

“A forma como comunicamos, como conduzimos reuniões ou como tomamos decisões varia muito entre culturas, e os portugueses conseguem posicionar-se bem nesses diferentes quadrantes”, afirmou.

Ainda no início do evento, o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Nuno Piteira Lopes, destacou a importância da história e da cultura como base da afirmação de Portugal no mundo, defendendo a continuidade do país enquanto nação relevante e solidária.

“Assumimos a ligação histórica e cultural para que Portugal continue a existir como uma nação relevante”, afirmou.

“exportar Portugal para o mundo”

No plano identitário, o autarca sublinhou a relação entre passado e presente na construção do país.

“É a história que faz o povo e é o povo que faz a nossa nação. A história é um palco contínuo onde gerações se unem”, declarou, além de referir que a diáspora portuguesa é peça estratégica para o futuro nacional.

“A nossa diáspora é fundamental, porque são os seus membros que exportam Portugal para o mundo e deixam marcas no estrangeiro”, disse, salientando o contributo das comunidades portuguesas nas áreas empresarial, cultural e desportiva.

Nuno Piteira Lopes reforçou ainda o papel de Cascais neste contexto, assumindo o município como centro de ligação às comunidades portuguesas no exterior.

“Cascais é a vila global portuguesa por excelência e a capital europeia da diáspora portuguesa”, afirmou, agradecendo ao Conselho da Diáspora Portuguesa a escolha do concelho como sede.

“Acreditamos na diáspora portuguesa. Cascais é para todos, dentro e fora das nossas fronteiras”, concluiu.

A fechar o evento, discursou Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, mencionando que seria a sua última intervenção enquanto presidente honorário do Conselho da Diáspora portuguesa.

O chefe de Estado português sublinhou o papel central da diáspora na projeção internacional de Portugal e o soft power português como um dos principais ativos estratégicos do país.

“Temos um soft power poderosíssimo”, afirmou, resultante da história, da geografia, da diplomacia, das Forças Armadas e, sobretudo, da diáspora portuguesa espalhada pelo mundo.

Marcelo sublinhou ainda que a dimensão real da diáspora portuguesa é frequentemente subestimada, defendendo que o país é, hoje, numericamente maior fora do que dentro do território nacional. O presidente destacou também o crescimento progressivo do Conselho, desde um núcleo inicial até à consolidação de uma rede global de excelência, reunindo portugueses de referência nas áreas da educação, ciência, tecnologia, cultura e empresariado.

O seu discurso terminou com um apelo mobilizador aos conselheiros da diáspora, convocando-os para uma atitude ativa, inconformista e criativa ao serviço do país.

“Continuem insubmissos e rebeldes, isso é fundamental, não deixem de sonhar”, e concluiu, citando a cultura portuguesa como motor de futuro: “Porque, como dizia um grande poeta português, é pelo sonho que vamos”.

O Conselho da Diáspora Portuguesa (CDP), que reúne 376 conselheiros portugueses presentes em 44 países dos cinco continentes, realizou a 10ª edição do Encontro Anual, em Cascais, sob o tema “A Diáspora como Capital Humano”.

O encontro contou com a presença de 200 convidados, incluindo líderes políticos e conselheiros de todo o mundo, que debateram a forma como as soft skills dos portugueses, como empatia, capacidade de adaptação e inteligência relacional, aliadas a formação, mérito, resiliência e visão, fortalecem a imagem de Portugal no mundo.  ■

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